terça-feira, 14 de setembro de 2010

ANDRÉ LAURENTINO


Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Não lembro exatamente qual foi o primeiríssimo. Mas lembro de alguns que, por motivos diversos, marcaram. Ed Mort e outras histórias, lido na sexta série do Colégio de São Bento. Indicação de um amigo, Edvaldo. Até ali eu nunca tinha imaginado que livros pudessem ser engraçados. Lembro de interromper a leitura para gargalhar. Luis Fernando Verissimo é um grande formador de leitores. Este aqui, por exemplo. O fator humano, de Graham Greene. Pelo lado oposto. Trouxe um tema sério, analisado num curso de inglês, em Olinda, que marcou minha relação com os livros. A Penguin e a literatura inglesa foram portas importantes para mim. O padre irlandês Frank Murphy, que ministrava o curso, fez uma análise detalhada da história deste romance Graham Greene é até hoje um dos meus favoritos. Bliss and other stories, da neozelandesa Katherine Mansfield. Delicadeza, fluxo de consciência, epifania, monólogo interior, contos aparentemente sem grandes reviravoltas nos enredos. Li tudo dela depois. E Gilvan Lemos. Um pernambucano pouco divulgado, mas de grande valor. Li no colégio, para formação, seu O anjo do quarto dia. Fiquei tão encantado com um personagem (intelectual de interior, que escrevia artigos para lá de empolados - muito divertido) que passei a escrever artigos para mim mesmo com o mesmo estilo, só para continuar me divertindo com aquilo depois que o livro acabou.

Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Claro que sim. Claro que não.

Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Todas as histórias não foram contadas. Mas todos os temas já foram abordados. Mas isso não é má notícia ou problema. Um poema de amor não invalida todos os outros que ainda estão por vir ou que já foram. E há novas formas de contar histórias. Independentemente da mídia que se escolhe. Há maneiras mais tradicionais (com começo, meio e fim bem definidos) e outras mais variadas (final inconclusivo, experiências no limite da estrutura, contar de trás para frente, etc). Às vezes a maneira de se contar uma história vale mais, prende mais, do que a própria história em si. Por exemplo, há pessoas que contam uma ida banal ao supermercado de um modo que você morre de rir e todo mundo pára no cafezinho da firma para ouvir. E há pessoas que contam a morte do pai, por exemplo, de um modo tão chato que ninguém suporta ouvir. Saber contar uma história exige um tipo específico de talento.

No que você está trabalhando agora?
Se eu contar, a mágica evapora. Pode parecer dessas superstições bobas, mas que las hay las hay.

Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Já dei pistas na primeira resposta. Mas aqui vão mais alguns. Não em ordem de preferência: Graham Greene, Katherine Mansfield, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Philip Roth, Milton Hatoum, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Antonio Maria, Rubem Braga e Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. De poesia (tenho que colocar os poetas aqui): João Cabral, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa.

*ilustração: Nathalia Lippo.

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