quinta-feira, 30 de junho de 2011

A LITERATURA NO TEMPO DOS APPS


As discussões e os comentários literários sempre se dão em torno de livros impressos, mas a era digital já está dando sinais de que vai disputar uma fatia desse bolo. Se a tentativa será próspera ou não, só o tempo dirá. Mas nas últimas semanas tem sido constante as notícias em torno de aplicativos gratuitos desenvolvidos para iPad, iPhone e Androids.

Se não estou enganado o primeiro caso sério que despertou o mundo das letras foi o aplicativo do poema The Waste Land (A Terra Desolada), de T.S. Eliot. Nele é possível não só ler o poema em forma de texto, como escolher a pessoa que vai ler o poema para você (tem Viggo Mortensen, o próprio Eliot e outros) e assistir um vídeo com uma leitura dramática feita pela atriz Fiona Shaw. Tem também vários menus explicativos, outros vídeos explicativos, fotos da vida de Eliot e as imagens do manuscrito original com as anotações e tudo o mais.

Depois foi a vez da turbinada versão "definitiva" do clássico beatnik On the road, de Jack Kerouac. O aplicativo tem tanto material que o romance em si parece ter menos importante. Tem vídeos, fotos inéditas, muitos menus explicativos e tanta coisa que teria de me estender por mais de um post para explicar. Imagino que deve ser difícil ler o livro ser se distrair e ficar tentado a mexer em alguma coisa. Vale como um belo exemplar de colecionador ou material de consulta para pesquisadores.

Existem também os aplicativos não tão sofisticados - diria rudimentares perto desses dois novos - dos livros Alice no país das maravilhas, de Lewis Caroll (que chamou atenção por causa do vídeo no youtube) e A guerra dos mundos, de H.G. Wells (é interativo, mas um pouco limitado).

Para completar a lista, a editora Penguin dos Estados Unidos acabou de lançar um aplicativo para iPhone em comemoração aos seus 65 anos. O aplicativo oferece a lista completa de obras publicadas pela Penguin Classics, separadas por título ou autor. Você pode ainda pesquisar por assunto, gênero, período histórico ou simplesmente chacoalhar o seu celular para ele te sugerir um livro. Isso sem falar nos joguinhos, interatividade com o Facebook e tal. É um aplicativo apenas de consulta da lista de livros que a editora publica. Eles estão de olho naquele consumidor antenado com a tecnologia - em breve esse aplicativo deve permitir compra de e-books.

Pensando no futuro, mas lembrando o passado

Olhando esses aplicativos, me lembrei da minha adolescência quando existiam aqueles CD-ROMs interativos que pareciam ser coisa do futuro - alguém lembra disso? O negócio tinha mil complicações, um designer meio quadrado e travava totalmente o computador. Eles eram vendidos como verdadeiras enciclopédias eletrônicas que iriam facilitar a vida do seu filho na escola. Felizmente o negócio não vingou depois do boom da internet.

O princípio dos aplicativos é bem parecido com o dos CD-ROMs, a diferença é a imaterialidade. Você não vai ter de reservar espaço na escrivaninha para nada. Tudo é virtual, numa base de dados que fica lá na China e você acessa através de servidores na internet. Uma beleza.

É fácil entrar naquelas discussões sobre a morte do livro, o mundo pós-humano, a era das máquinas e o desejo virtual. No entanto, não acredito que os "apps" vão mudar a nossa maneira de ler romances ou nosso interesse por livro em papel - pelo menos por um longo tempo. Até agora todas essas novidades facilitam a vida na hora de fazer pesquisa ou encontrar aquele livro cujo nome você esqueceu. Também ajudam quando você queria ter aquele livro bem a mão.

Para as editoras, criar um aplicativo com seu catálogo não deixa de ser um negócio interessante. Mas para o leitor os benefícios não são lá tantos entusiasmantes. Para a literatura do futuro muito menos. Pode ser que a pessoa que vai revolucionar a maneira como lemos ainda esteja para surgir nos próximos cem anos.

*imagens: reproduções.
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sábado, 25 de junho de 2011

O VERÃO DOS GRINGOS


Na semana passada, o caderno Ilustríssima publicou um "Diário de Londres" assinado por Vaguinaldo Marinheiro - correspondente da Folha de SP em Londres. Ele comecava o texto falando sobre a chegada do verão na Inglaterra. O verão tem mesmo um poder transformador em todos os países temperados do hemisfério norte. Por lá, as altas temperaturas são celebradas com festivais de música, apresentações ao ar livre e muita leitura. O jornais e revistas são os melhores termômetros para saber o que está acontecendo com a literatura de lá.

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A edição de verão da revista Paris Review tem a segunda parte do romance O terceiro Reich, de Roberto Bolaño, ficção de Jonathan Lethem (The empty room - disponível no site da revista) e entrevista com William Gibson - um dos papas da ficção científica. O editor, Lorin Stein, continua com seu projeto de renovar o espírito da revista com o lançamento da versão para iPad e e-readers.

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O jornal inglês Guardian, publicou uma reportagem com alguns escritores contando qual foi a melhor leitura de férias da vida deles. AS Byatt, por exemplo, contou da inesquecível experiência de ler todos os volumes de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust - detalhe, em francês. Jonathan Coe relembra a leitura de Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse. Para Jennifer Egan foi A história secreta, de Dona Tartt e Jonathan Franzen recordou Gente independente, de Halldôr Laxness. Tem ainda William Gibson, John Gray, David Lodge, Will Self, Colm Tóibín e outros.

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A New Yorker também publicou sua clássica edição dupla de ficção. Turbinada com textos de autores como George Saunders, Jhumpa Lahiri, Jeffrey Eugenides, Vladimir Nabokov, Jennifer Egan, Téa Obreth, Junot Díaz e Salvatore Scibona - (os links são para os textos que estão disponíveis para leitura no site).

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Aproveitando essa edição dupla da New Yorker, o time do Book Bench perguntou para os escritores que figuram na edição quais os livros que eles pretendem ler durante a temporada.

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Nós moramos num país tropical e não estejamos no verão. No entanto, tivemos o lançamento da edição nº 08 da revista Serrote. Tem ensaio de Orhan Pamuk (Sérgio Rodrigues comentou no Todoprosa), ficção de Lydia Davis inspirada em Flaubert, ensaio de Juliet Litman sobre as consequencias do 11 de setembro na literatura norte-americana, prefacio do romance Museu de sombras, de Gesualdo Bufalino, texto de Raul Pompéia e muitas coisas mais.

*imagem: reprodução.

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

CONVERSA COM SCOTT LINDENBAUM

Scott Lindenbaum, um dos fundadores da Electric Literature, participou do projeto "Oi Cabeça", no Rio de Janeiro. A revista "eletrônica" tem um modelo bacana: existe em versão impressa apenas por demanda (ou seja, só imprimem uma edição quando existe algum pedido de compra); e existe ainda uma versão digital para e-readers, Kindle e iPhone. Como a versão digital não precisa de impressão o custo gráfico é reduzido. Com o dinheiros os editores investem em novos autores e pagam muito bem.

Antes da Electric Literatura, Scott era competidor de snowboard. Ele fez mestrado em escrita criativa no Brooklyn College, nos Estados Unidos. Foi lá que ele conheceu Andy Hunter, co-fundador da revista.

Conversei com o Scott por e-mail. Nós falamos sobre como tudo começou, o modelo de publicação, o formato da revista e sobre o futuro, claro.

A Electric Literature foi criada em 2009. Desde então você já publicou cinco edições com contos de vários escritores famosos como Michael Cunningham, Jim Shepard, Lydia Davis, Bender Aimee, Moody Rick, Javier Marías e outros. Gostaria de falar um pouco sobre o momento em que você criou a revista. Como surgiu a idéia de criar uma revista com distribuição em múltiplas plataformas? O projeto me parece único, portanto eu imagino que vocês devem ter começado tudo isso sozinhos: arrecadar dinheiro para a primeira edição e encontrar as pessoas certas que poderiam ajudar.

Andy Hunter e eu começamos a Electric Literature em 2009, mas nos conhecemos na faculdade em 2006. Quando nos formamos em 2008, o clima editorial em Nova York era desanimador. A maioria das conversas sobre o futuro da palavra impressa não era muito inspiradora ou era sombria na melhor das hipóteses. Nós dois tínhamos trabalhado juntos numa revista literária da faculdade chamada The Brooklyn Review e sabíamos que depois de formados queríamos fazer algo juntos, mas não fazia sentido começar mais uma revista de literatura. Nós dois tivemos a cultura pop como formação – Andy foi o editor-chefe da revista MEAN em Los Angeles e eu fui profissional de snowboard por dez anos – e sabíamos que se a literatura fosse prosperar na era digital ela precisava abraçar algo dessa sensibilidade pop. Também sabíamos que isso significaria adotar novas formas de distribuição que fossem congruentes com a forma como as pessoas estavam consumindo conteúdo hoje. Mais ou menos nesse tempo, houve um grande artigo na revista New Yorker sobre adolescentes escrevendo romances em celulares no Japão que estavam sendo lidos digitalmente por milhões de pessoas. Mais tarde descobri que este estilo de composição tinha se tornado um fenômeno e que os editores japoneses tradicionais foram pegando esses romances digitais e trazendo para o impresso. A New Yorker enquadrava isso como uma curiosidade, e talvez estivesse implícito que isso só poderia acontecer no Japão, mas nós sabíamos que a cultura ocidental não poderia estar tão atrás.

Em 2009 o papo sobre e-reading começou. Levantamos cerca de US $ 65.000 para começar a Electric Literature. Até o final de 2010 era falido mesmo, agora suporta uma pequena equipe. Nos primeiros dias não foi fácil convencer escritores de alto nível de que o que estávamos fazendo era legítimo. "Ah", eles diziam: "vocês colocam histórias em celulares, certo?" Naquele momento "histórias em celulares" significavam "não ser realmente publicado". Michael Cunningham estava na nossa primeira edição. Ele teve que lutar com unhas e dentes com seu agente e editor para conseguir que isso acontecesse, mas o fato de ter feito foi enorme para gente desde o início.

Nesses dois anos você encontrou resistência de algum agente literário ou escritor? Alguém já disse "não" ao seu convite? E você acha que desde a primeira edição as coisas mudaram, as pessoas têm se adaptado ao seu modelo de distribuição? Você sente que alguma revista se inspirou no mesmo modelo da sua?

Definitivamente havia mais resistência para publicar com a gente em 2009 e início de 2010 do que existe hoje. Eu não acho que foi inteiramente por causa do formato digital na maioria das vezes. Foi também porque éramos de fora. Andy e eu não tínhamos ido para a Universidade de Nova York ou Universidade de Columbia, não éramos escritores publicados amplamente, não tínhamos estagiado na Paris Review, etc É um grande negócio para um autor reconhecido internacionalmente confiar a obra dele a você. Nós definitivamente tivemos que conquistar essa confiança. Uma vez um escritor ganhador do National Book Award concordou em colaborar junto com um ilustrador internacionalmente aclamado. A idéia era criar uma forma inovadora, uma peça literária multimídia feita especificamente para o iPad. O projeto foi descartado pelo agente do escritor. Uma pena. Um dia, um escritor genial vai enfrentar algo assim e repensar a experiência literária como a conhecemos.

Por que a Electric Literature publica apenas contos e não inclui ensaios ou entrevistas? E por que somente cinco contos?

Quando olhamos para outras revistas literárias que gostamos, como Tin House, Granta, N+1, The Kenyon Review, ou A Public Space, vimos uma mistura de formas literárias, fotografia e trabalho artístico. Mas quando mostramos essas revistas aos nossos amigos que não cursaram mestrado, eles não sabem o que fazer com elas. Muitas vezes, essas revistas tem centenas de páginas, e porque não se concentram num tipo particular de escrita, os leitores médios pegam e pensam algo como "tem a poesia e fotos vanguardistas, não tenho certeza se isso é para mim”. A verdade é que essas revistas são ótimas, mas elas também são muito intimidadoras se você não está profundamente enraizada na cultura literária. Queríamos fazer uma revista que qualquer leitor de ficção poderia pegar e ler de capa a capa em uma tarde e ter uma experiência inteiramente positiva. Cinco histórias significam que cada edição raramente tem mais de 120 páginas.

O iPad e os e-readers permitem aos editores usar não apenas textos, mas misturar textos com vídeos, imagens e som. Isto significa que nós podemos dar o livro (ou as obras de ficção) formatos nunca antes imaginados. Você acha que a ficção pode se tornar menos importante do que a tecnologia? Em outras palavras, você acredita que em breve vamos preferir vídeos, imagens e sons aos textos como a gente os conhece?

Eu não acho que a ficção vai se tornar menos relevante só porque a tecnologia se torna mais avançada. Telas, como papel, são apenas um mecanismo de entrega de uma experiência. Por centenas de anos a impressão de tinta no papel foi a forma mais eficiente de trazer uma experiência literária para a maioria das pessoas. Se é mais eficiente usar um celular ou tablet para o mesmo fim, que seja assim. A experiência singular transmitida pela grande ficção de mergulhar na consciência de outro ser humano permanece transcendente independentemente do meio em que circula. Eu realmente acho que as pessoas vão comprar livros tradicionais por motivos diferentes de quando compram e-books. Isso é semelhante à maneira como um consumidor decide comprar um disco que realmente ama em vinil ao invés de baixar o MP3. Dizem que o vinil está em alta na era do iTunes, mas não é porque ouvir vinil é conveniente. A experiência do vinil é diferente na medida em que conecta o ouvinte com a história de uma forma que o MP3 não conecta. Além disso, colocar um disco para tocar é fisicamente diferente do que selecionar uma música no iTunes. A experiência tem valor tangível. Esta será a verdade dos livros também.

E como está a Electric Publisher? Você tem recebido muitos pedidos?

Nós usamos o modelo do nosso aplicativo para iPhone para fazer aplicativos para The Adderall Diaries, de Stephen Elliott, Human Rights Watch e Melville House Press, mas nós colocamos esse projeto de lado para nos concentrar em outra iniciativa de narração digital chamada Broadcastr, que já está disponível no iPhone e nos Androids. Ele permite a pessoas do mundo inteiro contar histórias com suas vozes e, em seguida, colocar essas histórias no lugar do mapa onde a história aconteceu. Os ouvintes podem então andar pelo mundo ouvindo histórias sobre o que os cerca, como um passeio por tudo.

Quais são seus planos para os próximos dois anos da Electric Literature?

A Electric Literature vai continuar publicando boa ficção, isso sempre será uma verdade. Mas também estamos trabalhando em muitos projetos de grande conceito, incluindo algo muito extravagante com Ann Carson. Mal posso esperar para contar mais detalhes.



*imagens: divulgação/Scott Lindenbaum.
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terça-feira, 21 de junho de 2011

MACHADO DE ASSIS INFLUENCIOU WOODY ALLEN? (2)


Meia-noite em Paris, novo filme do Woody Allen entrou em cartaz nos cinemas no final de semana. Por conta do filme, encontrei uma outra entrevista com Woody Allen falando sobre os livros que serviram de inspiração para o seu trabalho. Ele fala novamente sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e dessa vez um pouco mais detidamente:

O livro transforma a mortalidade e as aventuras amorosas em comédia e está mergulhado num pessimismo irônico que parece familiar aos seus filmes. Como o livro influenciou você?

Não é que o livro me influenciou, ele ressoou em mim, da mesma maneira como quando vejo filmes de Ingmar Bergman. Eles significam algo para mim por causa de suas preocupações e da sua visão de vida. Ele despertou algo em mim, da mesma forma que O Apanhador no campo de centeio fez. Era sobre um assunto que eu gostava e tratava com grande sagacidade, grande originalidade e sem sentimentalismo.
Nas demais perguntas o livro aparece de viés. O entrevistador pega apenas os temas e tenta relacionar com os filmes de Woody Allen, mas ele desconversa um pouco. Uma pena que Woody não tenha comentado mais sobre as impressões de leitura. Não dá para afirmar que o livro foi uma influência, mas os temas de Machado de Assis são de fato muito familiares aos seus filmes.

*Imagem: reprodução do filme Meia-noite em Paris.

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O QUE TEM PORTO ALEGRE?



Porto Alegre é um lugar que intriga a gente que não é de lá. Você já reparou na quantidade de escritores gaúchos que aparecem todos os meses? Nunca estive na cidade, mas sei que eles têm uma cena literária bastante sólida apoiada pelos congressos, feiras de livro, prêmios literários, editoras, fanzines, blogs e bares da cidade (o elemento mais importante).

Os gaúchos têm tantos escritores que pegaram o modelo da Copa de Literatura e fizeram um campeonato regional só deles. O Gauchão de Literatura vai para a segunda edição com quarenta e oito concorrentes, todos com romances que foram publicados em 2009 ou 2010. É tanta gente que o torneio é dividido em três fases e começa no dia 4 de julho com previsão de terminar só em dezembro.

Não contentes, lá mesmo em Porto Alegre, o pessoal do StudioClio criou um projeto um pouco similar chamado Sport Club Literatura. Funciona assim: uma vez por mês todo mundo se reúne para assistir um jogo com duas disputas - uma histórica "denominada Coliseu (com clássicos e épicos da literatura) e uma pelada chamada Com-ca versus Sem-ca (com jogos mais alternativos, modernos, com ou sem critérios)". A diferença é que no Sport Club Literatura as partidas são ao vivo com a presença da torcida, de dois julgadores e um mediador. Ah! Os autores envolvidos na disputa não são necessariamente gaúchos.

O primeiro jogo acontece na próxima terça-feira (21 de junho) - tem de comprar ingresso para assistir. Na disputa da série Coliseu: Orgulho e preconceito, de Jane Austen enfrenta Middlemarch, de George Elliot com os juízes Milton Ribeiro e Joana Bosak. Na pelada vai ter um duelo de gigantes: 2666, de Roberto Bolaño e Liberdade, de Jonathan Franzen. Os juízes serão Antônio Xerxenesky e Carlos André Moreira.

Até deu vontade de comprar uma passagem para Porto Alegre, né?

*imagem: reprodução da Wikipédia.

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sábado, 18 de junho de 2011

GERAÇÃO ZERO ZERO

O caderno Prosa & Verso (do jornal O Globo) deidicou algumas páginas ao lançamento da antologia Geração zero zero: fricções em rede que está saindo pela editora Língua Geral. O livro foi organizado pelo escritor Nelson de Oliveira. Ele passou três anos pesquisando escritores que apareceram na última década e que tiveram pelo menos dois livros publicados. De um total de cento e cinquenta, pinçou apenas vinte e um - deixando de fora cinco escritores que gostaria de ter incluído, mas que não puderam participar: Clarah Averbuck, João Paulo Cuenca, Marcia Tiburi, Mário Araújo e Tatiana Salem Levy.

O caderno publicou uma entrevista com Nelson de Oliveira. Ele fala sobre o polêmico rótulo "geração", sobre as acusações de a coletânea ser puro marketing e sobre a vitalidade da literatura brasileira contemporânea. É impossível não pensar no debate de meses atrás sobre a apatia da nossa literatura. Não é à toa que Beatriz Rezende assina uma resenha sobre a antologia no Prosa & Verso. Tem ainda um comentário do caderno.

A parte qualquer discussão, sempre digo que essas antologias tem o mérito de servirem como ponto de partida para leitores descobrirem jovens escritores. Considerando que vivemos um momento de intensa publicação de livros. No final, podemos ter um panorama (ainda que sob a ótica particular de uma pessoa) do que está acontecendo na literatura atual.

Os americanos, ingleses e escritores de língua espanhola organizaram no ano passado coletâneas parecidas com a Geração zero zero. A versão brasileira da revista Granta (publicada por aqui pela editora Alfaguara) também pretende lançar no ano que vem uma edição dedicada aos Melhores jovens escritores brasileiros.



A antologia Geração zero zero tem participação de:

Flávio Viegas Amoreira (1965, Santos) - Autor do livro de contos Contogramas (2004) e poeta. Participa da antologia com "Apaixonado de mar", "Stallone, a pândega e o pederasta", O gato de Guima" e "Nazca".

Marcelo Benvenutti (1970, Porto Alegre) - Autor dos livros de contos Arquivo morto (2008), Vidas cegas (2002), O ovo escocês (2004) e Manual do fantasma amador (2005). Participa da antologia com "O homem que mostrava a língua", "O homem que amava as gordas (e as feias também)" e "O homem que suava ratos".

João Filho (1975, Bom Jesus da Lapa) - Autor dos livros de contos Encarniçado (2004) e Ao longo da linha amarela. Já teve contos publicados em diversas coletâneas de ficção. Participa da antologia com "Sob o sol de lugar nenhum".

Whisner Fraga (1971, Ituiutaba) - Autor dos livros de contos Seres & sombras (1997), Coreografia dos danados (2002), A cidade devolvida (2005) e Abismo poente (2009). Também publicou o romance As espirais de outubro (2007) e livros de poesia. Participa da antologia com "X".

Andréa del Fuego (1975, São Paulo) - Autora dos livros de contos Minto enquanto posso (2004), Nego tudo (2005), Engano seu (2007) e Nego fogo (2009). Também publicou o romance Os malaquias (2010). Já teve contos publicados em diversas coletâneas de ficção e escreveu livros infanto-juvenis. Participa da antologia com "Um milhão de vezes" e "Francisco não se dá conta".

Daniel Galera (1979, São Paulo, mas vive em Porto Alegre) - Autor do livro de contos Dentes guardados (2001) e dos romances Até o dia em que o cão morreu (2007), Mãos de cavalo (2006) e Cordilheira (2008). Também publicou a graphic novel Cachalote (2010) com Rafael Coutinho. Participa da antologia com "Laila" e "O velho branco".

Marne Lúcio Guedes (1960, Rio de Janeiro) - Autor do livro de contos Cio (2008). Participa da antologia com "A mão que afaga".

Maria Alzira Brum Lemos (1959, Campinas) - Autora do livro A ordem secreta dos ornitorrincos (2008). Participa da antologia com "Perto de você", "A terrorista do sutiã", "Conto para transmissão radiofônica", "Princesa" e "Ela nos meus sonhos".

Ana Paula Maia (1977, Rio de Janeiro) - Autora dos romances O habitante das falhas subterrâneas (2003), A guerra dos bastardos (2007) Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (2009) e Carvão animal (2011). Participa da antologia com "Javalis no quintal".

Tony Monti (1979, São Paulo) - Autor dos livros de contos O mentiroso (2003), O menino da rosa (2007) e Exato acidente (2008). Participa da antologia com "Esc" e "Esboço de Ana".

Lourenço Mutarelli (1964, São Paulo) - Autor dos romances Jesus Kid (2004), O cheiro do ralo (2002), O natimorto (2009), Miguel e os demônios (2009), A arte de produzir efeitos sem causa (2008) e Nada me faltará (2010). Também publicou diversos livros de histórias em quadrinhos. Participa da antologia com "Nova York 2007".

Santiago Nazarian (1977, São Paulo) - Autor dos romances Mastigando humanos (2006), Feriado de mim mesmo (2005), A morte sem nome (2004), Olívio (2003), O prédio, o tédio e o menino cego (2008) e do livro de contos Pornofantasma (2011). Participa da antologia com "Eu sou a menina deste navio".

José Rezende Jr. (1959, Aimorés) - Autor dos livros de contos A mulher gorila & outros demônios (2005), Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor) (2009) e Estórias mínimas (2010). Participa da antologia com "Macaco!", "Ana esta noite", "Fervura" e "A partida do audaz marinheiro".

Sidney Rocha (1965, São Paulo) - Autor do romance Sofia – uma ventania para dentro (2005) e do livro de contos Matriuska (2009). Participa da antologia com "Magnetismo", "Dança comigo", "O carretel", "Certo dia, a prateleira", "Não", "Sobre a arte de falir", "Para averiguações", "O destino das metáforas" e "Texto de orelha".

Carola Saavedra (1973, Santiago/Chile, mas veio para o Brasil aos 3 anos de idade) - Autora do livro de contos Do lado de fora (2005) e dos romances Toda terça (2007), Flores azuis (2008) e Paisagem com dromedário (2010). Participa da antologia com "A rainha da noite".

Paulo Sandrini (1971, Vera Cruz) - Autor dos livros de contos Vai ter que engolir (2001), O estranho hábito de dormir em pé (2003), Códice d’incríveis objetos & Histórias de Lebensraum (2005) e do romance Osculum Obscenum (2008). Participa da antologia com "O Rei era assim".

Walther Moreira Santos (1979, Vitória de Santo Antão) - Autor dos romances Um certo rumor de asas (2004), Helena Gold (2006), Dentro da chuva amarela (2006) e O ciclista (2008). Também publicou um livro infanto-juvenil. Participa da antologia com "Chove" e "Postais do abismo".

Carlos Henrique Schroeder (1975, Trombudo Central) - Autor dos romances A rosa verde (2005), Ensaio do Vazio (2006) e As certezas e as palavras (2010). Participa da antologia com "Apontamentos sobre o olhar".

Paulo Scott (1966, Porto Alegre) - Autor do livro de contos Voláteis (2005) e Ainda orangotangos (2007). Também publicou poesia e dramaturgia. Participa da antologia com "Sanduíche recheado de anzóis" e "Clichê policial".

Veronica Stigger (1973, Porto Alegre) - Autora dos livros de contos O trágico e outras comédias (2007), Gran Cabaret Demenzial (2007) e Os anões (2010). Também publicou livros infanto-juvenis. Participa da antologia com "Mancha".

Lima Trindade (1966, Brasília) - Autor do livros de contos Todo sol mais o Espírito Santo (2006), Corações blues e serpentinas (2007) e do romance Supermercado da Solidão (2005). Participa da antologia com "Bárbara não atende" "Eu, James Gandolfini (ou Jukebox)".

Em tempo, o livro Geração zero zero terá dia 21 de junho na Livraria da Vila (da Fradique Coutinho) a partir das 18h30. também haverá lançamento em Brasília, Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro.

*imagem: divulgação/reprodução.

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

BLOOMSDAY: JAMES JOYCE TECNOLÓGICO


Será que ainda dá tempo de comemorar o Bloomsday? Sei que me atrasei para as comemorações, mas me sinto na obrigação de não deixar passar a data em branco. Afinal, acho curioso o fato de Ulisses - um dos livros mais importantes da literatura moderna - ser um romance bastante celebrado, mas pouco lido.

Verdade seja dita: Ulisses é um osso duro de roer. Além das suas mais de 900 páginas, James Joyce resolveu "brincar" com a literatura, a crítica e os leitores. Meteu lá no seu romance os neologismos, mexeu na sintaxe, colocou as citações nos devidos lugares, criou diversas intertextualidades, mandou as categorias literárias darem um passeio (tempo e espaço se diluem, por exemplo), usou e abusou do fluxo de consciência - dizem até que ele esgotou todas as possibilidades de monólogo interior que qualquer sujeito poderia imaginar. No entanto, decifrar esse criptograma também é realmente prazeroso.

Ulisses não é um romance que você lê e depois abandona. Ele exige tempo, paciência, dedicação e releituras (porque não?). E o Bloomsday não é comemorado à toa. É uma chance de voltar pelo menos uma vez no ano ao romance que detonou as convenções formais do romance. Talvez seja mais fácil encarar o desafio deixando de lado a obsessão de entender totalmente o livro logo na primeira leitura. Até porque, no caso de Ulisses, vale aquela máxima "cada nova leitura sempre será uma primeira leitura".

Não se deixe abater! Tudo o que você precisa saber sobre o enredo do romance é: "nele, intercalam-se as trajetórias de dois personagens principais, Leopold Bloom e Stephen Dedalus, pelas ruas de Dublin ao longo de um único dia, 16 de junho de 1904. Sua estrutura e referências remetem à Odisséia, épico de Homero sobre as peripécias de Ulisses (Odisseu, para os gregos) em sua jornada de volta a Ítaca" (retirado do release da Alfaguara). No mais tenha em mente que Ulisses é um conjunto de experiências vividas pelo homem moderno. Embora isso pareça querer dizer nada, quer dizer muito.

Findo comentário, sigo para uma miscelânea de coisas que encontrei na internet sobre Ulisses, de James Joyce. Feliz Bloomsday atrasado!

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Traduções para o português
A primeira tradução de Ulisses no Brasil chegou pelas mãos de Antônio Houaiss em 1966 - boatos dão conta de que ele levou quase dez anos traduzindo. Quase quarenta anos depois, Bernardina da Silva Pinheiro fez uma nova versão - foram sete anos de trabalho. No próximo ano a Companhia das Letras, através do selo Penguin-Companhia, promete uma nova tradução assinada por Caetano Galindo.

O blog do IMS fez quatro perguntas a Caetano Galindo sobre a missão de traduzir um romance de James Joyce.

Segundo a Wikipédia, a primeira tradução do livro em Portugal foi lançada em 1983 por meio de uma adaptação da tradução feita por Houaiss. Porém, João Palma-Ferreira publicou uma tradução portuguesa em 1989.

Usando o twitter
Ontem, durante o #Bloomsday, um grupo de fãs (com participação de gente do mundo inteiro) criou um perfil no twitter para tentar adaptar a obra para a "econômica" rede social. A organização do chamado "twitaço" começou no blog 11ysses.wordpress.com. Eles passaram 24 horas publicando os trechos no perfil @11ysses e agora pedem uma avaliação dos leitores. Os comentários devem ser feitos no próprio twitter.

Quadrinhos
Robert Berry e Josh Levitas, da Throwaway Horse LLC, fizeram uma adaptação do romance para os quadrinhos - Ulysses “Seen”. É possível ler no computador, no celular e também no iPad. Ainda tem um guia de leitura para ajudar. (As duas imagens lá em cima forma retiradas do site)

Nas ondas do rádio
A rádio WBAI de Nova York transmitiu pela internet por sete horas consecutivas uma leitura de Ulisses com direito a participação de atores de Nova York, Los Angeles, Londres e Dublin. Não encontrei o arquivo no site da rádio. Mais informações aqui.

Podcast
O escritor Frank Delaney criou na internet um podcast na internet chamado Re:Joyce. A cada semana, ele desconstrói uma frase do livro durante cinco minutos. Só o primeiro capítulo levou um ano para ser destrinchado. Imagine quanto tempo mais ele levará até terminar o livro inteiro? Os episódios estão disponíveis aqui.


Códigos de barra
Está pensando que esses quadrados aqui em cima não servem para nada? Engano seu! O pessoal da Books2Barcodes converteu Ulisses para o formato código de barras 2D. Você pega o seu celular (devidamente equipado com um aplicativo de digitalização de código de barras) coloca diante desses códigos e voilà. É no mínimo um jeito diferente de ler Ulisses.

Desenho
Para finalizar, Ricardo Humberto fez uma ilustração bem bacana de James Joyce para o jornal Rascunho. O resultado pode ser conferido aqui.

*Imagem: reprodução - créditos no post.
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quarta-feira, 15 de junho de 2011

QUARTA-FEIRA LAUB

Hoje é quarta-feira. Um bom dia para ler coisas de e sobre Michel Laub.

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1. Ele participa hoje da série Sempre um papo em debate mediado por Afonso Borges. O evento tem entrada gratuita e acontece às 20h no SESC Vila Mariana, em SP. Amanhã, também às 20h, ele estará no SESC Belenzinho em debate sobre processo criativo com o elenco da peça "Escuro".

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2. Além do blog super bacana sobre livros, cinema música e outra coisas mais, ele é colunista mensal do blog da Companhia das Letras. Desde fevereiro, Michel escreve textos que são de suma importância para entendermos um pouco mais sobre crítica e literatura - sendo ele mesmo escritor e crítico.

Os três últimos textos são bastante preciosos: Os clichês do escritor e os clichês da crítica (reflexão sobre o funcionamento de clichês e jargões na literatura); Ainda sobre escritores e crítica (demonstra como a linguagem, ferramenta do crítico e do escritor, acaba virando uma competição "para ver quem fala mais alto e melhor") e James Wood e a frase perfeita (sobre o que é esse tal de "escrever bem").

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3. Michel Laub publicou esse ano Diário da queda. Um romance elogiado quase por unanimidade por leitores e críticos dos jornais, revistas e blogs. Também ouço recomendações de muitas pessoas com quem converso - infelizmente ainda não li, mas está na minha famigerada fila de leitura.



O primeiro capítulo está disponível aqui. E o trailer logo abaixo:



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4. Ele e Humberto Werneck organizaram a seção “Rubem Braga por ele mesmo”, da nova edição dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles. São trechos de crônicas de Rubem Braga "sobre cotidiano e poder, amores e desamores, velhice e morte".

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5. Para finalizar, ele faz parte do programa Viagem literária organizado pela Secretária de Cultura do Estado de SP. Michel estará em Bastos, Rancharia, Palmital, Sumaré e Monte Mor. Mais informações aqui.

*imagem: capa do livro, divulgação / trailer reprodução.
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A ARTE DE ENTREVISTAR

Existe coisa mais importante para o jornalismo do que uma entrevista? Uma constatação meio prosaica faz a gente pensar que essa pode ser uma das ações mais antigas do homem. Afinal, desde os tempos mais remotos um sujeito interpela outro a fim de obter informações, esclarecer dúvidas e fazer uma descoberta. Pense, por exemplo, naqueles clássicos diálogos socráticos. No entanto, saltando um pouco na história, com a formatação do jornalismo moderno a entrevista ganhou uma importância enorme. Ela se tornou a arte de saber perguntar, observar, ouvir, refletir, esperar e interromper - sendo que cada coisa tem de acontecer no momento certo; caso contrário tudo pode ir por água abaixo. Sua importância para o jornalismo é tão grande que qualquer reportagem construída sem essa interpelação tende a ficar pobre.

É na entrevista que podemos perceber melhor a figura do entrevistado. Chegamos a ele sem nenhum filtro: notamos seu silêncio, seu humor, sua incompreensão, os desvios na conversa e vemos as suas reações. Não é raro acontecerem grandes revelações que vão nos causar espanto ou indignação. Chego a pensar que a entrevista é capaz de nos colocar cruamente em contato com a humanidade ou a invenção de uma pessoa.

Uma pena que um pouco disso esteja se perdendo por causa a velocidade que os novos meios de comunicação impõe. Se por um lado a comunicação ficou mais fácil (não existem mais tantas barreiras para entrar em contato com alguém), as pessoas ficaram mais apressadas e os textos mais curtos. Isso para não comentar a obrigatoriedade das famosas "aspas" mal encaixadas.

Jornalismo literário ou gonzo
Por sorte, em geral, as revistas de literatura e os cadernos culturais investem nas grandes entrevistas e dão mais espaço para o repórter explorar o entrevistado o quanto possa - o que não quer dizer que ele o faça. Na internet, apesar de não existir o problema do espaço, é mais difícil captar a atenção do leitor disperso e publicar entrevistas extensas na íntegra. O editor ou a figura que vai publicar o material precisa criar atrativos para o leitor não ir embora - dai a importância das fotos, legendas, subtítulos etc. Quem sabe a relação leitor/internet não mude com os novos tablets e celulares (o tal mundo "pós-pc").

Imagino que em contrapartida ao mundo apressado da internet, o jornalismo literário e o jornalismo gonzo chamam mais a nossa atenção. Neles existe espaço para a reportagem arejada, bem escrita, envolvente e exaustivamente apurada. Reportagens históricas do jornalismo literário estão recheadas de entrevistas - sem elas a reportagem nem poderia existir. E o que dizer do jornalismo meio gonzo? Pense nas entrevistas do Pasquim: extremamente informais, espontâneas e altamente reveladoras.

A arte de entrevistas escritores
Puxando um pouco a sardinha para a nossa brasa, há três livros que registram grandes entrevistas de escritores. O primeiro deles foi lançado pela Companhia das Letras, As entrevistas da Paris Review - vol. 1. Talvez o livro dispense longas apresentações porque a revista é bastante antiga e muito conhecida por suas entrevistas - quase definitivas de um momento da vida de um escritor. Quase todos os grandes escritores modernos já apareceram em suas páginas. Pelo que li, elas consomem muito tempo para serem construídas e são minuciosamente editadas e revisadas. O primeiro volume tem entrevistas de Paul Auster, Jorge Luis Borges, Truman Capote, Louis-Ferdinand Celine, Javier Marías, William Faulkner, Ernest Hemingway, Ian McEwan e outros.

O segundo livro foi lançado no ano passado no Brasil pela editora Arte e Letra, Conversas entre escritores. Mergulhando no esquema de entrevistas informais e encontros despretensiosos, o livro registra a conversa sem compromisso de renomados escritores contemporâneos. Lembra um pouco o esquema da revista Interview (criada por Andy Warhol) e do Pasquim. As conversas foram organizadas e publicadas pela Believer, uma das revistas literárias mais bacanas do momento. Tem Nell Freudenberger na cozinha com Grace Paley, Ben Marcus em uma calculadora com George Saunders, Vendela Vida em um café com Jennifer Egan, Jonathan Lethem no Brooklyn com Paul Auster, Zadie Smith na casa de Sábado com Ian McEwan e outros mais.

Para finalizar, o terceiro livro foi lançado no final do ano passado pela editora Arquipélago Editorial, As melhores entrevistas do Rascunho – Vol. 1. O jornal Rascunho é bastante conhecido de qualquer sujeito que busca informações literárias. No ano passado completou dez anos e de brinde publicou esse livro de entrevistas com organização do escritor Luís Henrique Pellanda. As longas entrevistas são reveladoras e traçam um painel da literatura brasileira digno de nota. Tem entrevistas com Altair Martins, Bernardo Carvalho, Cristovão Tezza, Elvira Vigna, João Ubaldo Ribeiro, Luiz Ruffato, Milton Hatoum, Sérgio Sant’Anna e outros mais.

*imagem: reprodução.
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segunda-feira, 13 de junho de 2011

PÓS-FLIP

Você não vai a FLIP desse ano por que está com preguiça de viajar, não tem tempo de viajar até Paraty ou não conseguiu comprar ingressos para nenhuma das mesas na tenda dos autores e não quer encarar a tenda do telão? Não se preocupe, nove escritores estrangeiros da festa sairão em turnê por São Paulo e Rio de Janeiro logo após o evento.

A notícia é de Raquel Cozer:

Nove dos 21 autores estrangeiros da Flip, inclusive alguns dos mais esperados, estarão em eventos no Rio e em São Paulo ao sair de Paraty, onde já não há ingressos para vê-los ao vivo. Logo após a Flip, dia 11, James Ellroy fala sobre Sangue Errante (Record) na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (SP). No dia seguinte, no Sesc Pinheiros, David Byrne discorre sobre Diários de Bicicleta (Amarilys) em fórum de sustentabilidade. Ainda no dia 12, Claude Lanzmann lança A Lebre da Patagônia (Companhia das Letras) no Centro de Cultura Judaica, e Peter Esterházy autografa Os Verbos Auxiliares do Coração (Cosac Naify) na Livraria da Vila - Lorena. A unidade recebe no dia 13 Michael Sledge, autor de Tanto Mais lhe Devo (Leya), enquanto Pola Oloixarac faz na unidade Fradique Coutinho ação sui generis: hackear ao vivo um site, como os personagens de seu As Teorias Selvagens (Benvirá). O recordista de aparições é valter hugo mãe, com duas dobradinhas Rio-SP organizadas pelas editoras Cosac e 34. O Rio, aliás, embora vá receber menos autores que SP, terá dois encontros com o mais aguardado deles, Antonio Tabucchi, em datas e horas a confirmar. Ainda por lá, Emmanuel Carrère vai à sessão de O Bigode, baseado no romance homônimo (Alfaguara), na Maison de France, no dia 11. A Companhia ainda tenta evento com Joe Sacco.

[via coluna de Babel de 11/06]
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sábado, 11 de junho de 2011

CRÍTICA E LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Não sei se as pessoas ainda estão interessadas em ler sobre aquela polêmica em torno da crítica e da literatura brasileira contemporânea. No entanto, aproveito o texto de Wilson Alves-Bezerra no Prosa & Verso - Ainda sobre a literatura brasileira contemporânea - para postar dois vídeos do 3° Congresso Internacional de Jornalismo Cultural que aconteceu no mês passado. Os debates são interessantes por misturar quem faz e quem crítica literatura.

O primeiro debate pergunta "Qual o papel da crítica literária hoje: seus equívocos e seus acertos" com discussão de Rubens Figueiredo, Alcir Pécora e Daniel Piza. O segundo tem como tema a pergunta "O que quer e o que pode a literatura brasileira hoje? Ela tem autonomia estética e influência social?" com Fabio de Souza Andrade, Noemi Jaffe, Rodrigo Lacerda e mediação de Raquel Cozer.





*Vídeos: reprodução youtube.
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quinta-feira, 9 de junho de 2011

REVISTAS LITERÁRIAS - MINOTAURO Nº 02


Fazer revista independente de literatura no Brasil não é uma tarefa das mais fáceis. Só que a gente consegue fazer com colaboração aqui e ali - ainda bem! Por isso, não posso deixar de apoiar aqui o lançamento da revista Minotauro nº02 com o tema "Carne". Tem textos e arte de um monte de gente - já falei dessa revista por aqui. O lançamento acontece hoje no Rio de Janeiro no Bar Rebouças às 19:30h.

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Em tempo, quero aproveitar e dizer que a segunda edição do CASMURROS - o fanzine que edito - deve ficar pronta na semana que vem. O tema é "Verdadeiro ou falso?". Uma brincadeira com as fronteiras da verdade e da invenção dentro do universo da ficção. Tem bastante coisa legal.

*imagem: reprodução da Minotauro.
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TÉA OBREHT FATURA O ORANGE PRIZE

Na segunda-feira, enquanto todo mundo ainda estava espantado com as declarações de V.S. Naipaul sobre a literatura feminina, a organização do Orange Prize for Fiction anunciava os romances finalistas da edição desse ano. O modelo desse prêmio é bem parecido com o Man Booker Prize: um corpo de jurados escolhe vinte romances que vão compor uma "lista longa", depois uma "lista curta" e um vencedor. Porém, um detalhe importante diferencia os dois prêmios: o Orange Prize for Fiction foi criado para promover e premiar apenas romances escritos por mulheres. Portanto, entre o júri e as concorrentes somente o sexo feminino - uma curiosidade: Liz Calder, presidente da FLIP e diretora das editoras Bloomsbury Publishing e Full Circle Editions, é membro do júri nesse ano.

A ganhadora foi anunciada hoje à noite em Londres, com direito a cobertura pela internet - como não podia deixar de ser. Faturou o romance The tiger's wife, de Téa Obreht. Embora seja considerada uma autora estreante, Téa já publicou contos na New Yorker, The Atlantic, Harper's e no Guardian - ela ainda figurou no ano passado na famosa lista da New Yorker dos 20 escritores com menos de 40 anos. Não surpreende o fato de ter sido a mais jovem ganhadora do prêmio até agora, Téa tem apenas 25 anos. Admiradora confessa dos escritores T. Coraghessan Boyle, Toni Morrison e Gabriel García Márquez, ela já está escrevendo seu segundo romance.

The tiger's wife levou três anos para ser concluído e foi lançado em março desse ano. Foi um romance aguardado com muita expectativa e bastante comentado antes mesmo de chegar as livrarias. O livro de Téa Obreht disputou com Quarto, de Emma Donoghue (que acabou de sair aqui pela Verus editora), Great house, de Nicole Krauss (que vai ser publicado ano que vem pela Companhia das Letras), The memory of love, de Aminatta Forna e Annabel, de Kathleen Winter.

Agora, voltando ao começo, basta uma olhada rápida na "lista longa" do prêmio para notar a enorme diversidade de formatos e temas que vinte mulheres diferentes adotam. Sem dizer que o prêmio está completando dezesseis anos e conquistou a devida atenção e respeito de público e crítica. O que será que V.S. Naipaul teria a dizer sobre isso?

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*Atualização: Lá em cima a gente tem a capa da edição americana do livro escrito por Tea Obreht e aqui a capa da edição que deve sair no Brasil mês que vem. The tiger's wife será publicado pela editora Leya com o título de A noiva do tigre. A tradução foi feita pelo escritor Santiago Nazarian.



*imagem: reprodução.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011

DON DELILLO RENOVADO

A editora Picador convidou o pessoal da It's Nice That para relançar dez romances do escritor Don DeLillo. Por sua vez, o pessoal da It's Nice That convidou ninguém menos que Noma Bar para criar os desenhos das capas.

Noma disse que o processo foi um pouco demorado, ele teve de ler todos os romances e se concentrar nos principais elementos das histórias. Depois de criar muitas ilustrações para cada um dos livros, ele e o pessoal da It's Nice That fizeram as escolhas finais.

"Depois de um longo processo que envolveu leitura, pesquisa e desenho, eu comecei a tirar alguns dos principais elementos de cada história e tentei entender como Don DeLillo adaptados los juntos. O resultado é uma imagem arrojada para cada capa que podem parecer convencionais no início, mas num segundo olhar revelam toda a história".
O resultado final ficou realmente surpreendente. Ele traduz o livro em imagens simples que se transformam. Parece que o estilo de Noma caiu como uma luva para os livros do DeLillo. Não é a primeira vez que a capa de um livro dele recebe ilustrações. Uma edição da Penguin Classics para o romance Ruído branco ganhou desenho de Michael Cho.

Abaixo montei uma galeria com as capas:



Noma Bar é um designer e ilustrador israelense muito conhecido pelos trabalhos para as revistas Time Out London, The Economist e Wallpaper, para o New York Times e por algumas capas de livros. A revista Piauí já teve uma ilustração dele na capa da edição_47 - aquela do lobo mau e da chapeuzinho vermelho.

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Em tempo: Don DeLillo deve publicar até o final do ano um livro reunindo nove contos escritor entre 1979 e 2011. O livro será publicado nos Estados Unidos com o título de The Angel Esmeralda: Nine Stories.

*imagens: reprodução das capas assinada por Noma Bar/It's Nice That.
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domingo, 5 de junho de 2011

FINAL DA COPA DE LITERATURA



Alô, você, meu caro leitor. Passei por aqui só para lembrar que amanhã será um dia muito importante - apesar de ser segunda-feira "braba". É que teremos a final da Copa de Literatura Brasileira edição 2010/2011 - o campeonato mais divertido das letras nacionais que existe desde 2007. Será um duelo de Titãs, para usar um clichê ou uma hipérbole - como você preferir. O campeonato que começou em fevereiro terá O filho da mãe, de Bernardo Carvalho x O livro dos mandarins, de Ricardo Lísias.

Os dois romances chegaram até aqui depois de disputarem com Edney Silvestre, Elvira Vigna, Andre de Leones, Sérgio Rodrigues, Joca Reiners Terron e Michel Laub. Na grande final teremos parecer de todos os jurados + Fernando de Freitas Leitão Torres. Quem ganhar fará companhia aos escritores Luiz Antonio de Assis Brasil, Cristovão Tezza e Carola Saavedra.

Infelizmente só li O filho da mãe, do Bernardo Carvalho, por isso vou ter de me ausentar de qualquer parecer ou torcida. O livro do Ricardo Lísias está na minha fila de leitura. Me limito a dizer o seguinte: O filho da mãe é muito bom e o Bernardo Carvalho já é uma espécie de unanimidade de crítica e público; sobre O livro dos mandarins li muitos comentários positivos e sei que ele concorreu em vários prêmios de literatura do ano passado - Lísias inclusive está na lista e nas perguntas dos 20 escritores com menos de 40.

Me comprometo com o seguinte: se o livro do Lísias ganhar, vou passá-lo na frente na minha longa fila de leitura; ganhando o Bernardo, vou passar Nove noites na frente na fila - é que também não li esse.

E você, meu caro leitor, já fez sua aposta? Torce para quem e porquê?

*imagem: reprodução.

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JONATHAN FRANZEN NA REVISTA VEJA



A revista Veja da semana passada tinha resenha de Jerônimo Teixeira para Liberdade, de Jonathan Franzen. Ocupando três página, o texto opta por revelar o forte caráter político do livro e aponta alguns pontos fracos. Tem ainda uma entrevista com o autor.

*imagem: reprodução.
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sexta-feira, 3 de junho de 2011

DAVID MITCHELL E ADAM ROSS A CAMINHO

Dois romances que singelamente deram o que falar em 2010 estão em tradução para o português. The thousand autumns of Jacob de Zoet, de David Mitchell e Mr. Peanut, de Adam Ross devem chegar as prateleiras das livrarias brasileiras no segundo semestre desse ano.

David Mitchell pode ser considerado um escritor veterano. Publicou cinco romances, todos muito diferentes entre si, que nunca passaram despercebidos por crítica e leitores. Além de contar boas histórias, ele tem um estilo muito particular que o permite escrever histórias de natureza variada indo dos monumentais romances com múltiplos narradores ao longo dos séculos a simplicidade da vida de um menino gago nos anos 80. James Wood, num perfil sobre o escritor para a New Yorker, disse que Mitchell tem mais histórias na cabeça do que maneiras de realizá-las. Em The thousand autumns... Mitchell recria a atmosfera do Japão no começo do século XIX para contar a história de amor de Jacob de Zoet, um mercador holandês, por Orito Aibagawa, uma parteira japonesa.

O livro está sendo traduzido pelo escritor Daniel Galera - tradutor de John Cheever, Zadie Smith, Jonathan Safran Foer e Irvine Welsh. Galera postou no tumblr dele um trecho da tradução. É curto, mas dá para acompanhar a beleza da prosa de Mitchell.

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Adam Ross é um escritor novato, mas autor de um romance bastante "pretensioso" para um estreante - como muita gente falou. Para se ter uma ideia, ninguém menos que Stephen King - o mestre do terror(!) - disse que Mr. Peanut lhe causou pesadelos. Falou mais, é "um fascinante olhar sobre o lado negro do casamento desde Quem tem medo de Virgínia Woolf?". A tal pretensão de Ross está na estrutura do romance. Ele queria construir uma história que lembrasse uma fita de Moebius - aquela fita que tem apenas "um lado" e não tem fim. Além da estrutura repetida, o livro tem alusões ao universo dos videogames, ao filme Janela indiscreta, de Alfred Hitchcock, a obra do artista M.C.Escher e remete a Raymond Carver, Cheever e Updike. Já nasce como grande literatura.

Misteriosamente Alice Pepin, que é alérgica a amendoins, aparece morta com um amendoim na garganta. O primeiro suspeito do crime é o marido dela, David Pepin. A coisa fica complicada quando descobrimos que os dois investigadores envolvidos no caso também tem relações estranhas com suas esposas.

O livro está sendo traduzido pelo escritor Daniel Pellizzari - tradutor de David Foster Wallace, Hunter S. Thompson, Lawrence Durrell, William S. Burroughs, Irvine Welsh e adivinhem: David Mitchell.

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Autores favoritos de David Mitchell: Italo Calvino, Haruki Murakami, John Banville, Vladimir Nabokov, George Eliot, Muriel Spark e Ursula K Le Guin.

Autores favoritos de Adam Ross: Saul Bellow, Vladimir Nabokov, Joseph conrad, Italo Calvino, Haruki Murakami, Alice Munro.


*Imagem: reprodução.
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É O MUNDO LITERÁRIO FEMININO

Que me perdoem os rapazes leitores desse blog, mas há uma discussão urgente em torno do feminino abalando os pilares literários. E o negócio está ficando sério demais para ser simplesmente deixado de lado.

Olha para trás, parece que tudo começou com a exposição New Publications da artista plástica Daniela Comani numa galeria de arte em Los Angeles. A fim de criticar a ausência feminina no cânone literário ocidental, a artista escolheu cinquenta e dois clássicos da literatura ocidental e mudou o gênero de seus títulos - de masculino para feminino e vice-versa.

Logo depois, em tom de celebração a questão feminina, a revista Granta lançou uma edição com o tema "The F Word" ("A palavra F", em tradução literal) mostrando como o feminismo continua tentando romper o poderoso domínio masculino no mundo. Na autoria dos textos mulheres (e somente mulheres) de diversas partes do mundo olhando para a questão feminina. Entre elas Lydia Davis, A.S. Byatt e Téa Obreht num texto de introdução a um ensaio fotográfico de Clarisse d’Arcimoles. Se não estou enganado é a primeira vez que a revista se dedica ao tema. De quebra o site da Granta disponibiliza mais conteúdos: um podcast entre Sigrid Rausing, editora da revista, e duas escritoras, Rachel Cusk e Taiye Selasi; um post sobre as "bíblias do feminismo" no mundo com direito a discussão no twitter protagonizado pelos leitores (leitoras!) dizendo quais são suas "bíblias" particulares; tem ainda o prefácio de Helen Dunmore para uma nova edição do romance Rumo ao farol, de Virgína Woolf que está saindo na Inglaterra - ninguém melhor do Woolf para corroar esse tema.

Curiosamente, a revista Esquire (publicação voltada ao público masculino) divulgou em seu site uma lista com 75 livros que todos os homens deveriam ler. Nenhuma novidade, listas surgem a toda momento e escolhem os temas mais diversos. A seleção inclusive tem um mérito particular por incluir medalhões da literatura: Dostoiévski, Tolstói, John Le Carré, Raymond Carver, Jorge Luís Borges, John Steibeck, Cormac McCarthy, James Joyce, Philip Roth, John Updike, Ernest Hemingway, William Faulkner, Saul Bellow, Charles Bukowski, Joseph Conrad, F. Scott Fitzgerald, Salman Rushdie, Kingsley Amis, Vladimir Nabokov, Don DeLillo e tantos outros. Porém, o que poderia ser uma lista à toa causou uma grande indignação feminina por citar apenas uma única escritora: Flannery O'Connor. Como em tempos de internet todas as notícias se espalham com facilidade não faltaram manifestações nas redes sociais contrárias a Esquire. A revista Joyland, por exemplo, fez uma lista com 250 livros escritos por mulheres que todos os homens deveriam ler. Pode ser que a revista não tenha feito de propósito, vai saber.

Em outro momento, o Book Bench da New Yorker, sem querer, também tocou no assunto literatura feminina. Elizabeth Minkel escreveu um post - Bad Romance? - comentando uma pesquisa sobre os danos que os romances podem causar as mulheres (víciam, por exemplo). Ela até toca na polêmica envolvendo a escritora Jennifer Egan, recém-ganhadora do prêmio Pulitzer. Numa entrevista ao Wall Street Journal, Egan falou contra o gênero Chick-Lit.

O caso V.S. Naipaul
Para encerrar o assunto, essa semana V.S. Naipaul, escritor renomado e ganhador do prêmio Nobel, atacou a literatura feita por mulheres. Segundo reportagem do Guardian, quando perguntado se poderia haver alguma escritora que se igualasse a ele a resposta foi "eu acho que não". Ele citou Jane Austen dizendo "não posso compartilhar suas ambições sentimentais" e ainda disse "eu leio um texto e em um ou dois parágrafos consigo saber se foi escrito por uma mulher ou não". O jornal lembra que Naipaul sempre diz coisas que ganham repercussão citando a desavença entre ele e Paul Theroux que foi dissipada nessa mesma semana.

Em forma de brincadeira, o Guardian criou um jogo em que os leitores são convidados a descobrir se o trecho foi escrito por um homem ou uma mulher. Seria muito engraçado ver o desempenho de Naipaul. Será que ele teria mais acertos do que erros?

No Brasil
Entre nós, brasileiros, a literatura feita por mulheres também sofre do mesmo mal. Quem quiser entender mais sobre o assunto pode recorrer ao artigo Feminismo e literatura no Brasil, de Constância Lima Duarte que foi publicado pela revista Estudos Avançados. Tem também o clássico livro A literatura feminina no Brasil contemporâneo, de Nelly Novaes Coelho.

À guisa de conclusão listo algumas escritoras brasileiras que todos os homens deveriam ler: Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Marina Colassanti, Hilda Hilst, Carola Saavedra, Verônica Stigger, Andréa Del Fuego, Cecília Giannetti, Tatiana Salem Levy, Carol Bensimon, Lívia Sganzerla Jappe e Vanessa Bárbara.

Alguém sugere mais alguma?

*imagens: reprodução.

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

LADO7 NA ERA DIGITAL

A editora 7Letras que já edita livros e revistas desde 1990 deu o pontapé inicial para que as revistas de literatura brasileiras entrem na era digital. Ontem foi o lançamento da revista LADO7, uma revista de literatura que vai ter uma versão impressa e outra digital. A ideia é usar os recursos disponíveis nas novas mídias (áudio, vídeo, animações, links, hiperlinks etc.) para experimentar outros formatos literários dentro das possibilidades que o universo digital oferece.

Evidentemente, a nossa literatura já esta estabelecida na internet faz tempo (espalhada pelos blogs e redes sociais). Também existem muitos fanzines, jornais e revistas literárias com versões totalmente feitas para a rede mundial - é o caso do fanzine que edito, por exemplo. Mas, pensando especificamente na Lado7, o negócio tende a ir aos seus limites.

De acordo com a editora, o número #1 da revista tem:

"poemas visuais de Alexandre Dacosta, contos de André Sant’Anna, Carlos Henrique Schoroder, Raïssa de Góes e Sonia Coutinho, poemas de Afonso Henriques Neto, Ana Guadalupe, Charles Peixoto, Ismar Tirelli Neto, Marília Garcia, Victor Heringer e Walt Whitman, dramaturgia de Valère Novarina e Paloma Vidal, quadrinhos de Pedro Franz, ensaio de Sérgio Bruno Martins e arte de Maria Laet".
A tarefa é ambiciosa, deve demandar muito trabalho, mas não deixa de causar entusiasmo. Afinal, está mais do que na hora da nossa literatura experimentar esses novos formatos. Experiência a 7Letras tem de sobra com anos de publicação da revista Ficções - inteiramente dedicada à prosa de ficção. Resta só acertar a mão com os novos meios e não perder o foco com o deslumbramento tecnológico.

A inspiração deve ter vindo da revista norte-americana, Electric Literature - postei alguns vídeos aqui e também comentei aqui. Os editores Andy Hunter e Scott Lindenbaum investem em boas histórias de ficção e vídeos bem criativos. Depois de pronta, a revista ganha distribuição impressa e digital em diversos meios: iPad, iPhone, Kindle, e-readers, celulares etc. Não sei o quanto funciona em termos lucrativos, mas a revista tem bastante prestígio, reconhecimento da crítica e ganhou alguns prêmios.

Tomara que a revista Lado7 floresça e renda bons frutos.



*imagem: reprodução / video: Electric Literature.
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