terça-feira, 29 de novembro de 2011

A HORA DE CLARICE (2)

Tem muita gente que gosta de Clarice Lispector, mas também tem muita gente que não gosta - em parte pelo grande culto que os leitores, críticos e estudantes dedicam a sua figura seminal dentro da literatura brasileira, em parte por aquela quantidade enorme de spams, e-mails, cartinhas de namorado(a) e correntes apócrifas que circulam na internet. Vale a máxima "quem nunca recebeu uma mensagem de tipo?". Um pouco da mesma aversão deve acontecer em maior ou menor medida com Carlos Drummond, Fernando Pessoa, Rubem Fonseca e Luis Fernando Veríssimo que costumam lotar nossas caixas de mensagens, mural do Facebook e tudo o mais.

Para quem gosta tudo certo. Para quem não gosta um aviso: estamos às vésperas da primeira comemoração do dia "A hora de Clarice" (próximo dia 10 de dezembro, data em que ela nasceu). Portanto, ela será um assunto bastante presente. Já falei disso por aqui.

A antipatia à Clarice Lispector também existe por causa da enorme influência que ela exerceu nos escritores que vieram depois dela. Sempre dizem: "Clarice matou uma geração de escritores". Ainda hoje a gente escuta um pouco daquela voz narrativa - lembro, por exemplo, do livro que avaliei para o Gauchão de Literatura 2011; Clarice era ao mesmo tempo enredo e forma de um dos livros.

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Para dar mais brilho as comemorações uma notícia muito bacana: a charmosa revista Paris Review incluiu na sua edição de inverno dois contos de Clarice Lispector. A escritora figura ao lado de Paul Murray, Adam Wilson e Roberto Bolaño (com a quarta e última parte do romance O terceiro Reich - que a gente já está lendo desde o começo do ano). A edição ainda tem uma entrevista com Jeffrey Eugenides, o escritor mais comentado do ano na imprensa anglófona por conta de The Marriage Plot depois de Haruki Murakami. Aliás, um comentário à parte: em se tratando de Paris Review deve ser uma entrevista matadora.

*Imagem: reprodução daqui.
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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

UMA CRÍTICA EQUILIBRADA

Defender a crítica acadêmica é algo fora de moda. O negócio é malhá-la até onde a gente consegue. Indo na contra-mão desse corolário contemporâneo, o caderno Babelia, do jornal espanhol El País, trouxe uma reportagem especial interessantíssima chamada "Radiografía de la crítica literaria". Vinte críticos literários (misturando gente da Europa e dos Estados Unidos) foram convidados a fazer uma avaliação da crítica na era da internet e apontar sugestões para que tanto a crítica, quanto a obra e seus autores continuem tendo importância.

A discussão é extensa, complexa e está bem longe do seu fim, de modo que não consigo resumí-la aqui em alguns parágrafos. Os convidados traram de temas centrais como a função da crítica, seu estado atual, sua perda de influência e poder, suas virtudes, defeitos e desafios. Recomendo aos que se interessam pelo assunto que acessem a reportagem para tomar contato com essas ideias - disponível em

A tentativa do jornal tem o seu mérito por ser equilibrada, deixando de lado as visões apocalípticas ou integradas sobre a internet e o futuro da crítica. Sobretudo quando ao fim, a reportagem propõe dez regras para uma crítica literária equilibrada:
1. Situar o autor, dizer quem é ele e o que o livro representa na sobre sua obra.
2. Localizar o livro e julgá-lo pela perspectiva de uma longa tradição literária.
3. Fundamentar com argumentos e exemplos para que o leitor compreenda e avalie.
4. Informar, educar e entreter.
5. Pouca sinopse e enredo.
6. Informar sobre o estilo, o significado e simbolismo do livro.
7. Dizer o que pensa o autor sobre o tema do livro.
8. Dizer o que o crítico pensa sobre o que o autor do livro disse sobre o assunto do livro.
9. Nem bater nem babar, uma opinião ponderada e uma fundamentação comprovada são mais convincentes que uma explosão.
10. Proibir adjetivos publicitários, quem deve concluí-los é o leitor.
Estamos tão imersos na confusão desse momento que fica difícil fazer uma avaliação autocrítica. Eliminar a lógica desse sistema exige muito esforço e renúncia por parte de muita gente, mas quem está realmente disposto a pagar o preço?

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Também sobrou para a internet na coluna de Daniel Piza para o Caderno 2. Pode parecer ranzinza, mas ele tem um pouco de razão:
Quando houve o surgimento da moda dos blogs, muitos articulistas, principalmente os mais jovens, saudaram a chegada de uma linguagem e tecnologia que iria combater a mídia "mainstream", com estilo mais autoral, atitude mais independente, interação mais democrática. Rodo por alguns blogs, sobretudo de moda, e vejo exatamente o contrário: escrita primária, comprometimento publicitário, busca da audiência pela audiência. Já os twitters, já chamados imprecisamente de microblogs, parecem confirmar cada vez mais a impressão de José Saramago: são grunhidos virtuais. Alguns de música postam um vídeo e só acrescentam a expressão "uau" ou "uhu" ou "ooôôoo". Isso que é argumento.
*Imagem: reprodução do caderno Babelia.
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UMA ANOTAÇÃO DE RICARDO PIGLIA

Em tempos de discussões sobre a literatura, a internet, a crítica, o autor, a obra e as afirmações de Paulo Coelho nada melhor do que Ricardo Piglia para iluminar nossos pensamentos:
A narração social se deslocou do romance para o cinema e depois do cinema para as séries, e agora está passando das séries para os facebooks e twitters e demais redes da internet. O que envelhece e perde a vigência fica solto e mais livre: quando o público do romance do século 19 se deslocou para o cinema, foram possíveis as obras de Joyce, de Musil e de Proust. Quando o cinema é relegado como meio de massa pela TV, os cineastas dos "Cahiers du Cinéma" resgatam os velhos artesãos de Hollywood como grandes artistas; agora que a TV começa a ser substituída massivamente pela web, valorizam-se as séries como forma de arte. Em breve, como o avanço tecnológico, os blogs e os velhíssimos e-mails e as mensagens de texto serão exibidos nos museus. Que lógica é esta? Só se torna artístico -só se politiza- o que caduca e está "atrasado".
Observações de Ricardo Piglia, retiradas de seus diários em Princeton e publicadas pelo caderno Ilustríssima com tradução de Paulo Werneck.

*Imagem: "Mammon" por Mariana Fonseca / Reprodução.
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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PAULO COELHO, BERNARDO CARVALHO E A LITERATURA (E CRÍTICA) NA INTERNET

Caramba! Vi uma notícia dizendo que em entrevista ao programa da apresentadora Ana Maria Braga, o escritor Paulo Coelho disse a seguinte frase: "As redes sociais são uma forma de literatura". Imediatamente me lembrei de um artigo escrito por Bernardo Carvalho para a revista Piauí - Em defesa da obra cujo resumo pode ser apresentado da seguinte forma: "As corporações da mídia querem que os escritores trabalhem de graça, não façam arte e exponham a vida privada na internet – e contam com o apoio de Paulo Coelho".

Fiquei sabendo do artigo através de Sérgio Rodrigues, do Todoprosa, num post em que conversa com Michel Laub e indiretamente com Bernardo Carvalho sobre a crítica em tempos de internet.

Recomendo vivamente a leitura desses textos. Por aqui, estou ruminando ideias e nem me atrevo a emitir nenhuma opinião depois de ler esse trecho:
"É assim que o chamado “valor social” (a capacidade que os indivíduos têm de influenciar uns aos outros através de suas opiniões em blogs, Twitters e páginas pessoais em sites de relacionamento) começa a despertar interesse no mercado virtual."
*Imagem: reprodução daqui.
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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PUTZ! PERDI A BALADA LITERÁRIA

Por muita falta de tempo e com muito pesar no coração não consegui acompanhar a Balada Literária de perto e acabei tomando uma cerveja em outras baladas. O que eu fiquei sabendo foi através dos jornais, blogs e pela TV. Li que uma multidão queria ocupar o Centro Cultural B_arco para assistir a mesa de Caetano e Augusto de Campos. Vi as fotos no blog da Ivana Arruda Leite, no Flickr, no Twitter e no Facebook da Balada - totalmente conectada.

(Pausa para um parêntese. Enquanto escrevo isso me bateu uma síndrome do adolescente imaginário (?!) que leva uma vida virtual, acompanhando tudo pela telinha do computador. Por incrível que pareça, não sou assim. Acreditem!)

No sábado tentei ver o Daniel Galera e o João Gilberto Noll no Itaú Cultural, mas atrasei e perdi. Uma pena! Ainda mais para mim que gosto de "festa" e que adoraria fazer a cobertura de um evento que está acontecendo aqui bem perto. Fica para o ano que vem.

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Aliás, a Balada Literária 2012 já tem homenageado: Raduan Nassar - o recluso escritor vai participar de um evento dedicado a sua obra. Isso é algo inédito se pensarmos na história dele. Promete! Dessa vez, reservo o mês de novembro inteiro.

*Imagem: Foto do homenageado desse ano, Augusto de Campos/ reprodução do Facebook.
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

LISTAS: BAD SEX FICTION E O MELHOR DE 2011 PELO NY TIMES

Comentei nas notas #32, no começo da semana, sobre o Bad Sex in Fiction Award organizado pela revista Literary Review. O Guardian adiantou alguns dos indicados ao prêmio desse ano. Pois bem, no dia seguinte saiu a lista completa. Além de Haruki Murakami e Stephen King, estão entre os finalistas:

On Canaan’s Side, de Sebastian Barry
The Final Testament of the Holy Bible, de James Frey
Parallel Stories, de Péter Nádas
Ed King, de David Guterson
The Land of Painted Caves, de Jean M Auel
The Affair, de Lee Child
Dead Europe, de Christos Tsiolkas
Outside the Ordinary World, de Dori Ostermiller
Everything Beautiful Began After, de Simon Van Booy
The Great Night, de Chris Adrian

Como falei, ganha o prêmio o autor que escrever a pior cena de sexo num romance lançado durante o ano. Tom Wolfe, Norman Mailer e Jonathan Littell são alguns autores que tem o troféu na estante de casa.

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Outro assunto das notas #32 eram as listas de melhores livros de ficção de 2011. O New York Times acabou de publicar a sua. A lista completa está aqui, mas adianto alguns livros que certamente vão ser assunto para a gente no próximo ano.

The Angel Esmeralda: Nine Stories, de Don DeLillo
The art of Fielding, de Chad Harbach
Changó's Beads and Two-Tone Shoes, de William Kennedy
The Cat’s Table, de Michael Ondaatje
11.22.63, de Stephen King
The Free World, de David Bezmozgis
The Marriage Plot, de Jeffrey Eugenides
1Q84, de Haruki Murakami
Open City, de Teju Cole
The Pale King: An Unfinished Novel, de David Foster Wallace
Parallel Stories, de Peter Nadas
The Sense of an Ending, de Julian Barnes
Stone Arabia, de Dana Spiotta
Cenas da vida na aldeia, de Amós Oz (publicado pela Companhia das Letras em 2009)
A mulher do tigre, de Téa Obreht (publicado pela Leya em 2011)

Um balanço do melhor do ano na ficção nacional deve sair em breve.

*Imagem: reprodução Google.
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

A HORA DE CLARICE

A exemplo do que aconteceu com Carlos Drummond de Andrade, no DiaD, o Instituto Moreira Salles e editora Rocco promovem no próximo dia 10 de dezembro "A hora de Clarice". O intuíto do evento é comemorar o aniversário da escritora Clarice Lispector e promover sua obra em todo o país. A programação prevê palestras, dramatizações, contações de histórias, além de ações na internet e nos pontos de venda. Por enquanto, foram confirmados José Miguel Wisnik, José Castello, Nadia Gotlieb e Pedro Vasquez - mais atividades serão anunciadas em breve.

O evento acontece no momento em que a obra da escritora também está em evidência internacional. Alguns escritores gringos já confessaram ter sofrido influência de Clarice. Os festivais Europalia e FILBA desse ano tiveram mesas dedicadas a ela. A editora norte-americana New Directions, em projeto coordenado por Benjamin Moser, pretende relançar em 2012 cinco livros dela com nova tradução e novo projeto gráfico (aliás, a biografia escrita por Moser pode virar filme). Obras dela também estão saindo na Espanha.

Por aqui, as obras completas de Clarice saíram pela editora Rocco num projeto que terminou em março do ano passado.

*Imagem: reprodução da Wikipédia.
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

NOTAS #32

Capas
Alguns leitores ainda não eram nem nascidos quando esses livros foram lançados (nem mesmo eu, para falar a verdade). Portanto, imagino que todos devem ter muita curiosidade em saber como foi a capa da primeira edição de Alice no país das maravilhas, Anna Karenina, Mrs Dalloway, O som e a fúria, Trópico de câncer, Ulysses, O almoço nu e alguns outros mais. Pois o Flavorwire fez uma lista bem legal com a capa da primeira edição de 20 livros bem conhecidos (os que citei antes estão entre eles). A capa acima é do livro Laranja mecânica, de Anthony Burgess em 1962. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/7nuedct

Os melhores de 2011
Já começou na imprensa anglófona mais uma temporada para eleger os melhores lançamentos de ficção do ano. É a chance daquele leitor que passou o ano inteiro metido em recuperar as leituras atrasadas do ano passado saber o que vale a pena ler no ano que vem - ou até o final desse ano, quem sabe. Certamente quase todas as listas gringas serão unânimes quanto aos livros The Marriage Plot, de Jeffrey Eugenides; A Visit From the Goon Squad, de Jennifer Egan; The Pale King, de David Foster Wallace; 1Q84, de Haruki Murakami e A mulher do tigre, de Téa Obreht, para citar alguns.

***

Vale lembrar que todos estes livros já têm previsão de lançamento em terras brasileiras. A Companhia das Letras deve lançar The Marriage Plot no primeiro semestre de 2012 e The Pale King - ainda sem data prevista. A Visit From The Goon Squad sai pela Intrínseca provavelmente no ano que vem. 1Q84 também deve chegar no ano que vem pela Alfaguara. A mulher do tigre foi publicado pela Leya Brasil com tradução de Santiago Nazarian.

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Nas listas que vi até agora fiquei surpreso com a menção a There but for me, de Ali Smith e O mapa e o território, de Michel Houellebecq (que a editora Record prometeu para esse ano, mas deve ficar para o ano que vem).

Bolaño HTML5
A nova edição da revista Granta (me refiro a inglesa mesmo, pois a revista está ganhando edições no mundo inteiro) com o tema "Horror" publicou o conto El Hijo del Coronel, de Roberto Bolaño - em inglês ficou The Colonel’s Son. A história de uma menina mordida por um zumbi ganhou uma versão em HTML5 com desenhos de Owen Freeman e dos web designers do escritório Jocabola. A animação percorreu a internet instantes depois de ter sido postada na página da revista. É realmente alucinante! Está disponível em http://tinyurl.com/cbeo2lc

Entrevista Sebald
O escritor alemão W.G. Sebald faleceu em 14 de dezembro de 2001 vítima de um acidente de carro. Dias antes do incidente, Sebald concedeu uma entrevista para a rádio KCRW (por conta do lançamento em inglês de Austerlitz) em que fala de suas influências literárias e sobre questões pertinentes a sua obra. A entrevista em inglês está disponível em http://tinyurl.com/6gkayu9

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Na edição #2 do fanzine Casmurros há um ensaio de Rick Poynor sobre algo que sempre me intrigou nos livros de Sebald: as fotografias. O ensaio chama "W.G. Sebald: escrevendo com imagens". O fanzine está disponível para download aqui.

Ruim de livro
Há dezenove anos o suplemento británico Literary Review entrega um prêmio literário que desperta o riso dos mais atirados e rubores no rosto dos mais pudicos: o Bad Sex in Fiction Award. Ganha o prêmio o autor que escrever a pior cena de sexo num romance lançado durante o ano. O jornal Guardian adiantou que entre os indicados desse ano estão Stephen King com uma cena de 11.22.63, Haruki Murakami com o badalado 1Q84. Mais nomes devem surgir até a entrega do prêmio em 6 de dezembro.

*Imagem reprodução.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

O REI ESTÁ PÁLIDO


Os espanhóis são mesmo muito rápidos no gatilho. Eles já estão lançando uma tradução para The pale king, romance póstumo de David Foster Wallace, quando nem bem o livro foi digerido pelos falantes de língua inglesa (já existem edições nos Estados Unidos e Reino Unido). Não sou conhecedor do mercado editorial espanhol, mas só ouço falar bem - dizem que é um dos mais prósperos da Europa. Por isso não espanta a notícia de que eles vão ler Foster Wallace junto com os povos do outro lado do Canal da Mancha, do oceano Atlântico e terras que falam inglês.

El rey pálido chega quinta-feira às livrarias espanholas pela Mondadori com tradução de Javier Calvo. A capa tem o mesmo projeto da edição norte-americana. Para comemorar o lançamento, o blog Papeles Perdidos (do jornal El País) publicou com exclusividade o primeiro capítulo da tradução. O trecho está disponível nesse link.

A editora explica um pouco da história do livro:
Os funcionários do Centro Regional de Investigação da Receita Federal em Peoria, Illinois, parecem bastante normais para o trainee recém-chegado David Foster Wallace. Mas a medida que ele mergulha em uma rotina tão enfadonha e repetitiva que os novos funcionários tem de receber treinamento de sobrevivência ao tédio, ele descobre a extraordinária variedade de personalidades atraídas para este chamado estranho. E ele chega num momento em que forças dentro da Receita Federal estão conspirando para eliminar até mesmo o pouco de humanidade e dignidade que o trabalho ainda tem. No seu estilo característico, cheio de citações, notas de rodapé e interrupções do autor na história, David Foster Wallace reflete sobre o tédio e felicidade.
***

Por aqui, a gente conta apenas com a tradução feita por José Rubens Siqueira para coletânea de contos Breves entrevistas com homens hediondos. No entanto, no meio do ano a Companhia das Letras anunciou que vai lançar não só The pale king, como também uma coletânea de não ficção e Infinite jest - o monolito de Foster Wallace. Por enquanto, os três ainda não têm data prevista de lançamento. Seja como for todo mundo está comemorando e cruzando os dedos em busca de notícias. Afinal Foster Wallace tem uma verdadeira legião de fãs, assim como Thomas Pynchon, J.G. Ballard e outros tantos mais.

Detalhe: David Foster Wallace não tem nenhuma tradução em Portugal.

*Imagem: reprodução da capa da edição espanhola.

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sábado, 12 de novembro de 2011

TRÊS REVISTAS E OUTRAS MAIS

Para aproveitar o feriado prolongado, um apanhado de revistas com muitos textos:


Serrote
Já está nas praças a edição #9 da revista de ensaios Serrote. Além do conteúdo de primeira (com textos de Cynthia Ozick, William Hazlitt, Sylvia Molloy, Rem Koolhaas, Bernardo Carvalho, Ronaldo Brito, William Faulkner, Paulo Mendes Campos, Julio Cortázar e muitos outros) a edição vem com projeto gráfico e visual caprichados. Coisas que nenhum iPad ou Kindle do mundo poderiam fazer. Tem até bonecas desenhadas e confeccionadas por Zelda Fitzgerald que você pode destacar, se quiser.


Granta
A edição #8 da versão brasileira da revista Granta tem o tema "Trabalho". Tem textos de Julian Barnes (o recém ganhador do Man Booker Prize), Marcello Fois, Aleksandar Hemon, Bruno Bandido, Doris Lessing, João Anzanello Carrascoza, José Luiz Passos, Mario Sabino, Michela Murgia, V.V. Ganeshananthan e Yiyun Li, e ainda um ensaio fotográfico de Walter Carvalho. As três pérolas da edição são o trecho do romance inédito de Bernardo de Carvalho previsto para 2012, um conto de Colum McAnn e um texto de Salman Rushdie sobre a preguiça.


Electric Literature
A bacanuda revista de ficção norte-americana chega a edição #6. Tem textos de Nathan Englander, Mary Otis, Matt Sumell, Steve Edwards e Marc Basch. Dá para ler em papel, iPhone, iPad, Kindle e até em PDF (tem de pagar, evidentemente). A belezura fica por conta de um vídeo baseado no conto "The Reader", de Nathan Englander (reproduzido abaixo).



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Vale lembrar que além dessas revistas ainda tem a nova edição da Granta inglesa com tema "Horror" (cheia de gente bacana escrevendo) e a Piauí (com muitos textos interessantes de Ricardo Lísias e outros mais).

*Imagens: reprodução.

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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ONZE DO ONZE DO ONZE


O caderno Ilustrada, da Folha de SP, resolveu comemorar a data 11/11/11 (cabalística e astral, como muitos diriam) convidando onze autores brasileiros para escrever minicontos de onze linhas. Tem Modesto Carone, Fernando Bonassi, Ronaldo Correia de Brito, Fabrício Corsaletti, Marcelo Coelho, Reinaldo Moraes, Natércia Pontes, Sérgio Rodrigues, Joca Reiners Terron, Verônica Stigger e Vanessa Bárbara.

Abaixo reproduzo o miniconto de Verônica Stigger:


PRÓLOGO
"Agora vocês vão ver",
dizia ele aos primos,
que gargalhavam como aves
de mau agouro, enquanto
espalhava pelas paredes brancas
do quarto o sangue que saía
aos borbotões de seu portentoso
nariz. Nenhum deles percebeu
que a mancha de sangue
na parede ia assumindo
os contornos do mapa do Sul.
*Imagem: reprodução do Google.

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

LEITOR QUE NEM EU, QUE NEM QUEM?


Lorin Stein, o aclamado editor da Paris Review, mantém uma seção no blog da revista em que responde perguntas vindas dos leitores da própria revista. Se não estou enganado essa seção é semanal. Toda a sorte de perguntas relacionadas ao universo da literatura aparecem nesse espaço e são respondidas com bastante entusiasmo pelo editor. Os leitores chegam até a pedir conselhos e escrevem em busco de algum conforto que os atormenta.

Na semana passada, um leitor mais desinibido perguntou ao Sr. Stein qual grande livro ele deveria ter lido e nunca leu. Curiosamente, o editor respondeu dizendo que nunca leu, por exemplo, clássicos da literatura como Jane Eyre (Charlotte Bronte), Viagem ao fim da noite (Louis-Ferdinand Céline), A consciência de Zeno (Italo Svevo), O amante de Lady Chatterley (D. H. Lawrence), Meridiano de sangue (Cormac McCarthy), O arco-íris da gradidade (Thomas Pynchon), A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy (Laurence Sterne) e outras coisas mais.

(Quem quiser ver a resposta completa pode clicar aqui).

É irresistível não olhar com uma pequena desconfiança para o episódio - será que tanto a pergunta quanto a resposta não seriam ficcionais? No entanto, a revista Paris Review goza de imenso prestígio e credibilidade, de modo que arriscar essa reputação seria um golpe baixo.

Seja como for, senti um enorme alívio por nunca ter lido uma série de livros que deveria ter lido e ainda não li. Tenho uma fila de leitura que só aumenta a cada dia. Por exemplo, ainda não li 2666 e nem Os detetives selvagens (Roberto Bolaño, ambos). Também não li O Mestre e margarida (Mikhail Bulgakov), Menino de engenho (José Lins do Rego) e nenhum livro do Chico Buarque exceto Estorvo. Liberdade, o novo clássico de Jonathan Franzen, está intocado na minha estante - estou esperando passar um pouco o tempo. E tantas outras coisas mais que nem lembro. Fiquei com vontade de que todo mundo confessasse pelo menos um grande livro que nunca leu - ia ser bem divertido.

Conclusão ululante, meus caros amigos: se nem Lorin Stein leu tudo, que dirá a gente.

*Imagem: reprodução.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

QUEM TEM MEDO DE LIEV TOLSTÓI?

A nova edição do romance Guerra e paz, de Liev Tolstói com tradução direta do russo feita por Rubens Figueiredo foi anunciada em 2009. De lá pra cá sua vida viveu um período de tormento. O telefone não parava de tocar dia e noite. Antes e depois das aulas os alunos perguntavam. Sempre que alguém o via na rua logo queria saber: "e a tradução de Guerra e paz, pra quando é?". Rubens Figueiredo chegou até a sentir certa desconfiança toda vez que alguém pedia uma entrevista ou vinha se aproximando depois de uma palestra. A pergunta podia surgir a qualquer momento ou circunstância, assim meio disfarçada. Até quando ganhou prêmio por um romance que ele mesmo escreveu alguém na platéia teve coragem de perguntar. Também, ele se meter a traduzir um monumento da literatura diretamente do original - só podia mesmo dar nisso?

Evidentemente, a história acima é fictícia, mas bem que poderia ter sido verdadeira. Os dias de sossego (ou de nova tormenta?) de Rubens Figueiredo estão próximos. Se tudo der certo daqui a duas semanas, finalmente deve chegar às livrarias a nova tradução de Guerra e paz pela Cosac Naify. Lançamento bastante celebrado e digno do posto de um dos melhores do ano. Todo mundo vai querer uma entrevista ou um comentário do tradutor - que também assina um texto de apresentação do livro.

O romance monumental de Tolstói vem numa caixa super bonita (reprodução acima), em dois volumes, com 2536 páginas, 6 ilustrações (cinco mapas), lista com informações sobre as personagens e fatos históricos + sugestões de leitura. Animou? Já está em pré-venda no site da editora.

Ninguém mais tem medo de livros gigantescos, como é o caso desse. Comparando "alhos com bugalhos", a coleção As crônicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin é um fenômeno de vendas e ninguém pergunta pelo tamanho na hora de comprar. A mesma coisa vale para as sagas Harry Potter, Crepúsculo, Senhor dos anéis etc. Outros calhamaços que podem até não ter se tornado best-sellers, mas que tiveram bastante repercussão e bom número de leitores, como Liberdade, de Jonathan Franzen (761 páginas), a trilogia Seu rosto amanhã, de Javier Marias (1328 páginas), As benevolentes, de Jonathan Littel (912 páginas) e 2666, de Roberto Bolaño (856 páginas) - para ficar com alguns exemplos - também não intimidaram ninguém pelo tamanho. Um ensaio de Garth Risk Hallberg chamado "A volta do longo?" na edição #1 do fanzine discute essa questão.

Voltando aos russos e acompanhando o lançamento, a edição desse mês da revista CULT tem um dossiê especial dedicado a Tolstói e Dostoiévski - com direito a reportagem sobre Guerra e paz. Vale lembrar que na mesma edição #1 do fanzine publiquei um pequeno trecho dessa aguardada tradução - clique no link e faça o donwload.

Para ler enquanto a gente espera o livro chegar.

*Imagem: reprodução.
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domingo, 6 de novembro de 2011

ALGUNS DOS MEUS MELHORES AMIGOS SÃO DJS OU ESCRITORES

Kid Koala é um gigante na arte do turntablism e do scratch. O cara faz coisas incríveis com um vinil e uma pick up nas mãos. Tá duvidando? Então vai ouvir Some of my best friends are djs, disco de 2003. Muita gente imagina que Kid Koala nasceu no Bronx, em meio a cena hip hop local. Nada disso, ele é descendente de chineses nascido no Canadá. Até onde me lembro, Koala só esteve no Brasil (em São Paulo) em 2004 participando da primeira edição do festival Sònar. A apresentação foi impressionante.

Depois de ler tudo isso, você deve estar pensando: "o que um dj está fazendo num blog sobre prosa de ficção?". Explico: é que Kid Koala está lançando uma bela graphic novel chamada Space Cadet. O livro vem com um CD recheado de composições do dj para acompanhar a história de um robô programado para proteger uma doce astronauta nesse ou em qualquer outro planeta. Só que quando sai em missão, o robô começa a pensar... e agora?

Space Cadet tem 132 páginas, elegantes desenhos em branco sobre papel preto e um CD com 15 faixas para páginas específicas do livro. A ideia surgiu na cabeça de Kid Koala quando sua filha nasceu, mas a experiência não é inédita. Antes disso, ele tinha pulicado Nufonia Must Fall (2003) - outra graphic novel que contava uma história de amor entre um robô e uma garota viciada em trabalho, também acompanhava um CD como trilha sonora.

Abaixo tem um trailer do livro:



Por ocasião do lançamento do livro, Kid Koala fez algumas apresentações batizadas de Space Cadet Headphone Concert em museus da Inglaterra e dos Estados Unidos. Não era para dançar, apenas ouvir a música, ver as imagens do livro e apreciar a performance. Aqui tem um vídeo que passa uma ideia do negócio.

Abaixo algumas imagens do livro



*Imagens: reprodução do site de Kid Koala.

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

REVISTAS E FANZINES LITERÁRIOS NA ERA DIGITAL


Topei com três diferentes revistas (ou fanzines) digitais de literatura. Pode ser que seja ingênuo da minha parte imaginar um movimento de gente querendo colocar em circulação a literatura que sumiu dos jornais e das revistas "do mundo impresso". Outro dia mesmo vi nos jornais gringos, do tipo New York Times, artigos falando sobre uma espécie de renascimento dos fanzines impressos e da onda "do it yourself" dos tempos punk. Não deixamos por menos e criamos a nossa própria versão da coisa ainda que em escalas menores. Seja como for, não deixa de ser curioso que um monte de revistas (ou fanzines) do gênero estejam aparecendo e podem ser que apareçam muitas mais. Detalhe: todas aceita colaboração de todo o tipo, seja texto inédito, ensaio, entrevista, comentários e sugestões.

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A primeira revista é a Outros Ares - projeto do Marcelo Barbão e do Rafael Rodrigues. É uma revista mensal voltada especialmente para publicação de contos de novos escritores brasileiros. Também reserva espaço para entrevistas, crônicas e outros textos. Dá para ler no Kindle, Kobo, FBReader, Aldiko, Adobe Digital Editions, Nook e nos plug-ins para Firefox e Chrome. Já está no sexto número.

A segunda é a revista Macondo - editada por dois irmãos, Marcos e Francisco. Tem períodicidade variada. O formato é mais tradicional e parecido com revistas impressas. Tem poesia, resenha, ensaio, crítica, fotografia etc. Dá para ler nos e-readers que aceitam o formato PDF e na internet. Já tem dois números.

Por último tem a revistinha Um conto - parece que é organizada por universitários de Minas Gerais (não consegui descobrir muita coisa). Tem periodicidade mensal. Publica principalmente poesia e um conto ou crônica. Dá para ler nos e-readers que aceitam o formato PDF e na internet. O grande barato é o formato pequeno, você pode imprimir e dobrar. Lançou dois números, sendo um dedicado especialmente a Carlos Drummond de Andrade.

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Tem fanzine ou revista digital, manda o link. Sempre que posso divulgo algumas por aqui.

*Imagem: reprodução.

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