quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

RECADO

Pessoal,

O ano está acabando, mas eu ainda tinha um monte de coisas para falar. É sempre assim! As novidades ficam para o ano que vem. O blog faz uma pausa de hoje até a primeira semana de 2012. Feliz ano novo!

*imagem: reprodução do Google.
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MELHOR LEITURA, MELHOR HQ

Antes que o ano termine o blog Meia Palavra convidou uma turma bacana (jornalistas, editores, blogueiros, colaboradores, escritores, tradutores etc.) para comentar a melhor leitura que fizeram em 2011. O especial terá três partes, sendo que a primeira parte já está no blog - "Melhor Leitura de 2011 – Parte I". Recomendo a visita!

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Nem só de romances, novelas e contos vivem as narrativas. Pensando nisso, Raquel Cozer deu uma dica fantásticas "As melhores HQs de 2011". Nem preciso dizer que Asterios Polyp, de David Mazzucchelli foi uma unanimidade.

*Imagem: reprodução da HQ de David Mazzucchelli.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A LITERATURA E O VIDEOGAME

De uns tempos para cá, uma da obsessão dos "nerds" do Vale do Silício é criar um game que tenha tanta complexidade narrativa quanto Moby Dick, de Herman Melville. Quem confirma o fato é o jornalista Harold Goldberg. O caderno Link (do Estadão) publicou um artigo interessantíssimo assinado por ele comentando as ideias por trás de seu livro All Your Base Are Belong to Us: How Fifty Years of Videogames Conquered Pop Culture (importado - ainda sem previsão de lançamento em português).

No tal artigo, Goldberg menciona a ascensão dos desenvolvedores de jogos nas últimas décadas a verdadeiros "mestres do ritmo, do clima e dos diálogos de uma narrativa". A ponto de fazerem os jogares sentirem um nó na garganta, por exemplo. A certa altura ele diz "a história de um jogo pode ser tão envolvente quanto a trama de um best-seller da literatura".

Não restam dúvidas quanto a capacidade dos games de criarem universos tão imersivos quanto os romances. Sobretudo se pensarmos em jogos tão populares quanto LA Noire ou a série God of War. Mas será mesmo que grandes obras da literatura podem render grandes jogos? Por enquanto a resposta é não. Como tudo na vida, a literatura e os jogos de videogame são "narrativas" com uma linguagem própria e específica. A experiência de ler algumas palavras nas páginas de um romance é bem diferente de acionar o avatar de um jogo a fim de vencer um obstáculo. Da mesma forma que as ações dos avatares não fazem muito sentido quando transportadas para os livros. Sendo assim, melhor encararmos um jogo como um jogo e um romance como um romance - ainda que entre os dois universos tenham retirado suas inspirações uns dos outros.

Foi partindo dessas ideias que pensei no tema videogame para a terceira edição do fanzine. É saudável que a literatura deixe de lado aquele ambiente sacro em que muitos gostam de trancafiá-la para se aproximar de um tema pop - para não dizer, um tema do cotidiano das pessoas. Ao longo do ano vários "joguinhos" inspirados no universo literatura foram aparecendo. Talvez o mais famoso tenha sido a adaptação de O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald para a versão 8 bits em estética Nintendo. Ambos estão presentes no fanzine por meio de um trecho da nova tradução feita por Vanessa Bárbara (saiu pela Penguin-Companhia); e de uma entrevista com os dois desenvolvedores do jogo. Vale dizer que não foi a primeira vez que o romance de Fitzgerald foi adaptado para os games, a Big Fish Games também fez uma tentativa meio frustrada.

Outros destaques do fanzine são: o artigo de escrito especialmente por G. Christopher Williams relacionando o universo do Cormac McCarthy com os videogames; e o texto de Antônio Xerxenesky imaginando dez romances como se fossem videogames. Não podia faltar também uma recomendação de três livros que viraram jogos - os jogadores podem opinar se a adaptação foi boa ou ruim.

A cereja do bolo está nas ilustrações em estilo 8 bits feitas para a edição com exclusividade pelo designer Grafilu. Para fazer o download do fanzine Casmurros #3 basta clicar nesse link.

*Imagem: reprodução da tela inicial do jogo The great Gatbsy.
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

JAVIER MARIAS EM MEIO AS LISTAS

A lista de melhores livros do ano está virando uma espécie de peru de Natal. O irmão, a tia e o primo reclamam, mas eles passam o ano inteiro esperando por aquele momento particular de saborear um pedaço da coxa.

Para quem ainda não ficou conformado uma máxima: "as listas exercem um imenso poder de sedução porque elas definem aquilo que não conseguimos compreender totalmente". Ou seja, uma lista pode limitar um amplo universo de coisas que está ao nosso redor. Dividindo, separando, criando hierarquias, estabelecendo semelhanças e diferenças, assim as listas alimentam o nosso desejo de organizar e conhecer o mundo. O escritor e crítico Umberto Eco ficou tão fascinado pelo assunto que até escreveu um livro: A vertigem das listas.

Portanto, não adianta reclamar, ficar de cara feia ou torcer o nariz. A lista de melhores livros do ano é uma tradição da nossa cultura ocidental.

Os norte-americanos parecem ser muito bons nesse negócio. Pense, por exemplo, nas paradas de sucesso da Billboard. Eles devem ter sido os primeiros a disseminar na imprensa escrita essa mania de "listas de melhores do ano". O New York Times, a Time, a Forbes etc., são verdadeiras referências.

Um giro aleatório no Google com as palavras "best of 2011" ou "melhores de 2011" encerra o assunto.

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Deixando de lado a beleza e o horror do assunto, me deparei com a lista de melhores livros de 2011 do caderno Babelia (jornal El Pais). O semanário escolheu nada menos que Los enamoramientos, de Javier Marías - será lançado em português ano que vem pela Companhia das Letras. Não contente o caderno preparou um vídeo com o próprio Marias lendo trechos do livro e respondendo perguntas sobre o ato de escrever livros. A certa altura, Marias confessa que não faz nenhum plano prévio quando começa a escrever. Ele gosta de lidar com o desconhecido que a história pode trazer, de improvisar, de lidar com a mudança. Não consegui "embebedar" o vídeo que está disponível nesse link.

Recomendo a todo mundo que assista ao vídeo!
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NOTAS #33

Natal para escritores
Você tem alguma amigo escritor e não sabe como presenteá-lo? Não tem problema. O blog Jacket Copy, do LA Times, montou uma lista com catorze dicas de presentes incríveis que fogem daquele manjado novo romance da temporada ou daquela edição raríssima. Tem tatuagem de máquina de escrever, coleção de borrachas vintage, livros que são relógios, cadernos de anotações e mais. Meus três presentes preferidos foram um kit para você plantar seu próprio café (Grow-Your-Own-Coffee Kit da ThinkGeek; $10), a mesa de reescrita para evitar qualquer distração na hora do trabalho (Rewrite Desk da GamFrates - infelizmente não está disponível para venda) e o copo para Martini Dorothy Parker (Unemployed Philosopher's Guild; $13) junto com o conjunto de seis copinhos para bebidas (Great Drinkers Shot Glasses da Unemployed Philosopher's Guild; $16). Todos são importados. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/7b8axfl

Prêmios
Deixe o grande mundo girar, de Colum McCann continua fazendo uma boa trajetória. O livro ganhou o cobiçado National Book Award quando foi lançado nos Estados Unidos em 2009. Em junho desse ano recebeu o International IMPAC DUBLIN Literary Award e mais recentemente o Prêmio Cunhambebe de literatura estrangeira. McCann esteve na FLIP em 2010 e circulou calmamente pelas ruas de Paraty num visual bem veranista. Distribuiu muitos autógrafos, sorrisos e anotou diversos nomes brasileiros - para alguma personagem num eventual próximo romance. Por aqui, Deixe o grande mundo girar foi lançado pela editora Record com tradução de Maria José Silveira.


Nova tiragem
O filme Tão forte e tão perto, de Stephen Daldry com Tom Hanks, Sandra Bullock e Thomas Horn tem previsão de estréia em março de 2012. Pensando nisso, a editora Rocco colocou nas livrarias uma nova tiragem do romance Extremamente alto & incrivelmente perto, de Jonathan Safran Foer que serviu de ponto de partida para o filme. Curiosa foi a opção da Warner por traduzir o título para Tão perto e tão forte - devem ser questões comerciais. O livro lançando pela Rocco teve tradução de Daniel Galera e estava esgotado. A nova tiragem mantém a bela capa criada por Jon Gray.

Um ano de leitura
Pelo oitavo ano consecutivo o The Millions está organizando a série "A Year in Reading". Eles convidam grandes nomes da literatura norte-americana contemporânea, blogueiros e jornalistas para comentar qual foram as leituras marcantes de 2011. A lista inclui Jennifer Egan, Colum McCan, Geoff Dyer, Alex Ross, Jonathan Sanfran Foer e tantos mais. A lista completa (que tem atualização quase diária) está disponível em http://tinyurl.com/7qab83f

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O blog "Ponto Eletrônico" fez uma versão parecida com escolhas de Michael Laub, Antônio Xerxenesky, Luisa Geisler e Ana Guadalupe. O blog "mais1livro" montou uma lista igual mais diferente. Treze escritores estão recomendando livros para presentes de Natal.



O mármore
César Aira é um escritor inquieto. Em 36 anos de carreira ele já publicou 42 novelas - quase dois livros por ano, excluindo os livros de ensaios. El mármol, sua novela mais recente publicada esse ano pela editora La Bestia Equilátera, foi eleita pelo jornal El Pais como um dos melhores livros de 2011. Para além da história insólita, o charme do livro são as três capas criadas pela editora. Uma pena que Aira não faça tanto sucesso aqui no Brasil mesmo depois de ter participado da FLIP em 2007. Ele tem apenas três livros traduzidos para o português e alguns contos que foram publicados em revistas de ficção.

Sebald
Na semana passada completamos dez anos sem o escritor mais inovador da literatura contemporânea. Em 2001, W.G. Sebald sofreu um ataque cardíaco enquanto dirigia e morreu num acidente fatal envolvendo seu carro e um caminhão. Ele deixou quatro livros de ficção Vertigo, Os emigrantes, Os anéis de Saturno e Austerlitz que foram seminais por criar um estilo único misturando memória, ficção, literatura de viagem, história e biografia. Outra característica marcante de sua obra eram as enigmáticas fotografias em branco e preto que apareciam nos romances. Podemos ver um pouco da influência de Sebald na obra de Will Self, Geoffrey Dyer, Teju Cole, Jonathan Sanfran Foer, Javier Marias e Carola Saavedra. Foi uma enorme perda para a literatura.

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Na segunda edição do fanzine há um ensaio de Rick Poynor sobre a relação entre as fotografias e a história de Austerlitz - romance publicado em 2001 que poderia ter dado a Sebald o Prêmio Nobel de Literatura caso o acidente não tivesse acontecido. O ensaio se chama "W.G. Sebald: escrevendo com imagens" e está disponível em http://tinyurl.com/5tchj7g

*Imagens: reprodução.
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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CASMURROS #3




Nessa edição: Simone Campos, Cormac McCarthy, Flann O'Brien, Georges Perec, F. Scott Fitzgerald, Antonio Xerxenesky e mais. Ilustrações: Grafilu.

TAMANHO: 5.22MB
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

MADAME BOVARY C'EST MOI


Segunda-feira foi aniversário do escritor Gustave Flaubert. A data não teve nenhuma comemoração especial, mas se estivesse vivo ele estaria completando 190 anos. Nunca tive notícia de uma pessoa que tenha vivido tanto. De acordo com a Wikipédia a pessoa mais velha do mundo foi uma francesa chamada Jeanne Calment que morreu com 122 anos e 164 dias de vida (alguém confirma a informação?). Infelizmente, Flaubert não teve a mesma sorte que ela, embora também fosse francês. Ele morreu subitamente em maio de 1880, aos 59 anos.

Usar o epíteto “o maior escritor de todos os tempos” é chover no molhado. Seus feitos como criador de um estilo novo e moderno já foram cantados em verso e prosa. Por isso, tentei encontrar alguma história curiosa e diferente. Algo como o papagaio empalhado que ele pegou emprestado do Museu de História Natural de Rouen para escrever a novela Um coração simples (publicado em Três contos com tradução de Samuel Titan Jr. e Milton Hatoum). A história é tão fantástica e engraçada quanto verdadeira. Virou até um belo romance nas mãos de Julian Barnes. Roberto Pompeu de Toledo também confirmou a versão num ensaio para o primeiro número da Revista Piauí.

Inútil dizer que não encontrei nenhum “causo” inédito – pura ingenuidade da minha parte. No entanto, para não dizer que fiquei a ver navios, me deparei com uma nova edição do clássico Madame Bovary – costumes da província que acabou de sair pelo selo Penguin-Companhia. A tradução ficou a cargo de Mário Laranjeira. Uma bela maneira de comemorar os 190 anos de Flaubert já que a edição conta com apresentação de Charles Baudelaire, introdução de Geoffrey Wall e prefácio de Lydia Davis.

E aqui vale um comentário: além de ser uma escritora reconhecida, Lydia Davis também é tradutora do francês. No ano passado ela publicou uma nova tradução de Madame Bovary para o inglês que foi um sucesso na crítica anglófona. A história mais curiosa sobre o burburinho em torno dessa tradução surgiu quando a Playboy norte-americana publicou um trecho do livro em primeira mão. Emma Bovary emplacou uma chamada na capa da revista como o romance mais escandaloso da literatura.

De fato, quando foi publicado o romance foi um escândalo – levou Flaubert aos tribunais por imoralidade. Porém, Emma é muito casta quando colocada ao lado do conteúdo que a Playboy publica.

Para quem ficou curioso, a Playboy publicou um trecho do capítulo IX, da segunda parte. Quando Rodolphe leva Emma para um passeio. Vou tentar encontrar o trecho na tradução do Mário Laranjeira e depois volto.

*Imagem: reprodução do filme homônimo de Claude Chabrol com Isabelle Huppert no papel de Emma Bovary.

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PRESENTES DE NATAL - 2011

Organizei Uma seleção de ideias de presentes para pais, avós, filhos, namorados, amigos e demais conhecidos. No "guia de compras" entraram apenas livros de ficção em prosa lançados ao longo do ano de 2011. A intenção é ajudar na hora das compras, da correria, do amigo secreto e tudo o mais.

O serviço inclui imagem de capa do livro, título, autor, tradutor, preço e link para o site das editoras. O preço pode variar dependendo da livraria em que você compra em função de ofertas promocionais, programas de fidelidade, descontos, compra pela internet, importação etc.

1. Guerra e paz, de Liev Tolstói, traduzido do russo por Rubens Figueiredo (Cosac Naify; R$198,00). A batalha e a derrota de Napoleão na Rússia em tons monumentais.

2. Quarto, de Emma Donoghue, traduzido do inglês por Vera Ribeiro (Verus Editora; R$34,90). Um pequeno cômodo que é ao mesmo tempo um universo inteiro e uma prisão.

3. Tudo destruído, tudo queimado, de Wells Tower, traduzido do inglês por Adriana Lisboa (Rocco; R$39,50). Nove histórias sobre a nossa inútil tentativa de buscar um pouco de paz na vida.

4. Aventuras de Alice no subterrâneo, de Lewis Carroll, traduzido do inglês por Adriana Peliano e Miriam Ávila (Scipione; R$39,90). Primorosa recriação em detalhes do manuscrito que a pequena Alice Lidell recebeu de presente.

5. Liberdade, de Jonathan Franzen, traduzido do inglês por Sergio Flaksman (Companhia das Letras; R$ 46,50). A típica família norte-americana de classe média em ruínas.

6. Pale fire - a poem in four cantos by John Sade, de Vladimir Nabokov (Gingko Press; $22,77 - importado R$86,50). O livro de Nabokov transformado numa edição com visual impressionante.

7. A noiva do tigre, de Tea Obreht, traduzido do inglês por Santiago Nazarian (Leya Brasil; R$34,90). Uma jovem médica em missão de paz num país da península Balcânica busca histórias contadas por seu avô.

8. Habitante irreal, de Paulo Scott (Alfaguara Brasil; R$ 39,90). Desilusões políticas e infelicidade levam o protagonista a um encontro transformador.

9. Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente, de Lourenço Mutarelli (Companhia das Letras; R$44,50). Acontecimentos insólitos na vida de um simples aposentado da Companhia Telefônica.

10. Diário da queda, de Michel Laub (Companhia das Letras; R$38,50). Um acidente numa festa de aniversário com consequências trágicas.

11. Tempo de boas preces, de Yiyun Li, traduzido do inglês por Fernanda Abreu (Nova Fronteira; R$34,90). Histórias sobre filhos da pátria chinesa tentando buscar uma saída capaz de mudar seus destinos.

12. Tree of codes, de Jonathan Sanfran Foer (Visual Editions; $23,81 - importado R$108,90). Uma novela de Bruno Schulz recriada cortando palavras de todas as suas páginas.

*Imagens: Renata Ueda / capas: divulgação.
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

QUEM LÊ TANTA REVISTA?

Muito antes da internet existir, escritores e críticos literários usavam jornais e revistas como meio de circulação de novas ideias. As páginas quase artesanalmente impressas esquentavam o debate crítico e faziam circular novas obras de ficção. Tal ambiente pode conviver pacificamente com a internet por um tempo, mas desde os anos 2000 o mundo impresso vem sofrendo golpes que são aparentemente irreversíveis.

Para não soar muito apocalíptico levo em consideração o seguinte fato: com a internet aconteceu uma espécie de retorno a maneira artesanal de fazer jornalismo. As revistas mais bacanas de hoje se alimentam de fontes do passado - estou pensando, por exemplo, na Piauí e no caderno Ilustríssima que fogem um pouco da pauta do momento, propõe novas pautas etc. Aponto algumas razões simples para essa tendência: havia liberdade de espaço (os textos não precisavam ter um tamanho determinado), ninguém ficava refém da pauta do momento, havia tempo para pensar numa agenda, o processo era "artesanal" (sem muitos esquemas, fórmulas ou formatos) e o texto era muito importante.

Para não ficar somente no terreno das ideias, comentários, opiniões e impressões fiz um levantamento de algumas revistas literárias (ou quase literárias) que foram importantes na história da imprensa brasileira. Na verdade, aproveitei o ensejo para incluir algumas revistas "marginais" que ecoam o espírito do "jornalismo" artesanal - queria dizer "diferenciado" só que o termo não pega muito bem.

De verdade, comecei a pensar nesse assunto depois que fiquei sabendo que o Arquivo Público do Estado de São Paulo está com um projeto chamado "Memória da Imprensa". Uma parte do acervo foi digitalizada e está disponível na internet para consulta. O material se concentra em publicações de São Paulo, tem jornais e revistas do século 19 e 20 divididos por temas como política e cultura. Vale a pena perder um pouco de tempo vasculhando o acervo e encontrar algumas raridades como contos de Eça de Queiroz, homenagem ao escritor Raul Pompéia, críticas ao livro Dom Casmurro. É uma verdadeira volta ao passado.

Não está no Arquivo do Estado (mas está no setor de raridades da Biblioteca Mário de Andrade e na Brasiliana USP) as duas revistas mais badaladas da Semana de 22: a Revista de Antropofagia que circulou no ano de 1929 tendo Oswald de Andrade, Mário de Andrade junto com a nata do Modernismo brasileiro; e a Revista Klaxon que circulou entre 1922 e 1923 contando com a colaboração de grande parte do mesmo pessoal da Antropofagia.

Nos anos 30, no Rio de Janeiro, a efervescência literária acontecia por meio de duas revistas: Dom Casmurro (circulou entre 1937 e 1944) que teve entre seus colaboradores Joel Silveira e muitos escritores da segunda fase do Modernismo - Jorge Amado foi chefe de redação da revista; e a concorrente Revista Acadêmica, de Carlos Lacerda e Murilo Miranda.

De volta a São Paulo, entre os anos 1941 e 1944, a crítica paulistana foi privilegiada pela Revista Clima. Tinha um ar acadêmico pois foi fundada por ilustres estudantes da USP como Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Cândido, Rui Coelho, Gilda de Mello e Souza e Lourival Gomes Machado.

Saltando um pouco as décadas, vale lembrar do mítico semanário Pasquim - que teve uma antologia em três volumes editada recentemente pela Desiderata. Ali surgiu os textos soltos, as entrevistas sem corte, o bom humor, as ilustrações chapadas, os assuntos tabu para uma época em que ninguém devia falar a respeito e tantas outras coisas. Foi também nesse semanário que a intelectualidade brasileira apareceu fazendo resistência ao regime militar e a censura. Também descobri recentemente o Jornal EX graças uma edição fac similar da Imprensa Oficial. O jornal era mensal, foi publicado entre 1973 e 1975, e tinha um tom altamente provocador e inventivo. Outra revista dessa mesma época, recuperada pela Elvira Vigna, foi a Revista Pomba. Acho que não foi tão conhecida como as outras, mas tinha uma linha de pensamento bem parecida.

Para finalizar, uma revista bacana de Porto Alegre chamada Revista 80, inspirada na Granta, editada pelo pessoal da LPM. A história da está no blog da editora contada por Ivan Pinheiro Machado.

Devo ter lembrado de um período áureo da imprensa brasileira que não deve voltar. Pode parecer um pouco de saudosismo, mas não é. Olhando para essa tradição a gente pode recolher informações e boas ideias que apontem alternativas para a crítica, para a imprensa, para os blogs e para todo mundo que deseja sobreviver a era da internet (da diluição da informação e todas essas coisas que a gente está careca de ouvir). Também acho importante conhecer esse passado para não sair por aí achando que está fazendo alguma coisa nova sem saber que muita coisa realmente já aconteceu.

Com certeza, muitas revistas ficaram de fora. Se alguém sentir falta ou lembrar de alguma coisa, pode me avisar que faça as atualizações.

*Imagem: reprodução.
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

UMA CRÍTICA EQUILIBRADA (2)

Na semana passada o caderno Babelia convidou alguns renomados críticos de diversos países para pensar sobre a possibilidade de construir uma crítica literária equilibrada em tempos de internet. Por mais complexa que seja a questão, o caderno acabou propondo uma saída com dez itens que devem ajudar a crítica literária a sobreviver tanto na mídia impressa, quanto digital.

Tom semelhante deve pautar o II Seminário Internacional de Crítica Literária que acontece essa semana no Itaú Cultural. Os convidados são de altíssimo nível e os temas das mesas prometem boas discussões. Tomara que saíam dali boas ideias e propostas.

Esquentando e antecipando um pouco o debate, a coluna Painel das Letras, da Ilustrada, conversou com umas das convidadas do seminário, Marjorie Perloff - crítica literária, ensaísta e professora. Em breves linhas ela recomendou: "use menos jargão, evite disputas acadêmicas que não interessam ao leitor, invista em revisões de texto, para escapar do "vale tudo" da blogosfera". Pode parecer uma conclusão óbvia, mas não é.

A coluna ainda conversou rapidamente com outros dois convidados. Vale a pena dar uma olhada rápida - disponível aqui.

*Imagem: reprodução.
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