quinta-feira, 12 de abril de 2012

OS CONTOS DE SAMANTHA SCHWEBLIN

Deve ser o período mais longo que eu fiquei sem atualizar o blog, mas juro que não foi por falta de assunto. Estou ocupado com alguns trabalhos e não tive tempo de escrever, infelizmente. Tenho aparecido com maior frequência no twitter. Prometo que vou fazer o possível para recuperar o tempo perdido, afinal o blog vai completar 2 anos no próximo sábado (oba!) e não quero deixar a data passar em branco. Depois da explicação vamos ao que interessa.

Não sei quando foi a primeira vez que ouvi falar da escritora Samantha Schweblin, portanto vou eleger o lançamento da edição especial da revista Granta com "os melhores jovens escritores de língua espanhola" (2010). Quem acompanha as coisas que acontecem na literatura dos nossos hermanos argentinos deve ter tomado conhecimento de Samantha quando ela publicou o livro de contos
El núcleo del disturbio, em 2002. Antes disso, ela tinha participado de antologias e publicado contos espalhados em revistas literárias. Li El núcleo... no ano passado e achei um livro deliciosamente belo e perturbador. As personagens dos contos vivenciam situações realistas (como a própria Samantha gosta de afirmar em entrevistas) e insólitas que lembram a literatura fantástica consagrada pelos escritores argentinos – Borges, Cortázar e Bioy Casares. Além da forte tradição Argentina do conto, ela cita como influências Franz Kafka, Dostoievski, Flannery O’Connor, John Cheever e J.D. Salinger. Eu pensei bastante em Bestiário, de Cortázar mas em El núcleo... as situações parecem mais sinistras. Teve gente que comparou os contos aos filmes de David Lynch – a anormalidade é aceita como algo das nossas rotinas diárias e não como um desvio. Para usar muitos adjetivos é uma prosa limpa, precisa, ligeira, bem escrita e com belas imagens. Coincidentemente, Samantha é formada em cinema pela Universidade de Buenos Aires.

Uma pena que uma escritora tão talentosa como Samantha tenha passado despercebida e levado tanto tempo para ganhar tradução para o português. Finalmente, o erro está sendo corrigido com a publicação de Pássaros na boca pela Benvirá – em tradução feita por Joca Reiners Terron, um grande conhecedor da literatura latino-americana. Antes disso, a revista Arte & Letras K tinha publicado dois contos de Pássaros... e no ano passado a edição da Granta com os melhores jovens escritores em espanhol (rol do qual Samantha faz parte) trouxe um conto chamado “Olingiris”.

Acho graça quando ela diz que cobram dela uma obra de fôlego maior, como um romance, em oposição aos contos que ela escreve tão bem. É o tipo de pressão comum a todo escritor, como se o conto fosse um gênero menor e os romances fossem a prova cabal do talento de um escritor. Pura bobagem. Alice Munro já ganhou vários prêmios internacionais de literatura muito importantes e sua obra inteira é composta por contos. Com mais de catorze livros publicados ela já passou da fase de ter que provar algum talento. Pensando em Samantha novamente acho natural que ela dê prosseguimento a tradição contística que está enraizada na cultura Argentina (como falei antes Borges, Cortázar, Quiroga – que era uruguaio, mas viveu bastante na Argentina).

Ainda não li Pássaros... apesar de ter a edição em espanhol. Vocês me perdoam se eu disse que está na minha famigerada fila de leitura? Pelo que dizem os jornais, acho que o livro não deve nada a reputação atribuída a Samantha por admiradores como Daniel Alarcón – o escritor peruano que figurou na Granta e na New Yorker.

Tradicionalmente, a Benvirá costuma trazer musas para as edições da FLIP - Wendy Guerra, em 2010, e Pola Oloixarac, em 2011. Sempre achei que Samantha Schweblin seria uma forte candidata ao páreo, só que o livro acabou de sair e a escritora participa da Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília. A apresentação dela será no dia 16 de abril (segunda-feira, às 18h). Notícia boa e ruim ao mesmo tempo, porque fica difícil ir a Brasília nesse dia.

Seja como for, um aviso aos interessados de plantão: nesse ano, o posto de musa da FLIP já foi muito bem ocupado por Jennifer Egan – com todo respeito a Samantha, claro!

*Imagem: divulgação/Benvirá
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