quarta-feira, 11 de julho de 2012

BALANÇO OU O QUE EU VI DA FLIP 2012

Juro! Eu estava escrevendo um balanço sobre "o que eu vi da FLIP" (ainda dá tempo?) e começaria o texto dizendo que o escritor Francisco Dantas foi o que melhor sintetizou o espírito dessa edição ao dizer que não podemos exigir dos escritores muita desenvoltura diante de uma platéia e um microfone. Só que o Ubiratan Brasil, do Estadão, teve a mesma ideia e correu na minha frente. Uma pena! Seja como for, resolvi eleger o texto do Bira (ouvi um monte de gente chamando ele assim) a melhor análise da FLIP. Inclusive, assinaria embaixo do título da reportagem - "FLIP mantém desafio de balancear fama e intimismo".

Entendo que o público, muitas vezes, espera uma tremenda performance por parte dos escritores convidados. Acontece que alguns conseguem e outros não. Resta a pergunta: será que isso realmente torna a Festa mais desinteressante - para não dizer monótona?

Do que eu vi, achei a mesa com Gary Shteyngart e Hanif Kureishi muito bem humorada (do jeito que deveria ser e que o público queria que fosse, me parece). Em contrapartida, Jonathan Franzen... bem, Jonathan Franzen não agradou todo mundo, mas entendo as razões dele.

Não deixo de achar graça nos mediadores que ao começo de quase todas as mesas diziam "estamos diante do maior autor..." ou "estamos diante de grandes autores...". Ok, a gente sabe que eles são importantes do contrário não estariam por ali, certo?

Outro assunto que dominou todas as mesas foi o dilema da pátria: devemos pertencer ou não pertencer a este lugar, eis a questão? Fique claro que não estou falando com ironia - o assunto rendeu boas discussões e demonstrou como boa literatura pode surgir desses deslocamentos. A literatura (ou o gesto de escrever um livro) como forma de terapia também me pareceu meio dominante. Muitos escritores falaram a respeito.

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Agora mudando um pouco para a cobertura da FLIP pelos jornais.

Como tudo na vida, um festival (seja literário ou não) sempre é uma experiência muito particular. Cada participante tem um modo muito distinto de ver as coisas. Quem esteve em Paraty pensou uma coisa, quem viu a transmissão das mesas pela internet pensou outra e quem acompanhou pelos jornais (ou pela internet nos blogs, Twitter, Facebook e afins) pensou outra completamente diferente. Fica difícil achar um discurso central que atenda todas as percepções.

Por isso, acho estranho alguém afirmar que a FLIP foi monótona, que um defeito foi mesas unindo escritores com afinidades (cheias de elogios mútuos), erros e mais erros e tudo o mais. Li um monte de gente dizendo essas coisas. Fiquei com a impressão de que a imprensa sempre espera conflitos nas mesas para criar um fato jornalístico e ter notícia (ter sobre o que falar). Afinal, se um escritor só fala das qualidades do outro não tem muito como atrair atenção de todo mundo. Ao lado de Jennifer Egan, Ian McEwan até fez uma piada sobre isso dizendo "Não seria muito mais divertido se odiássemos o trabalho um do outro?".

Entendo que a ideia de mesas conjuntas pressupõe um deba

te, mas tenho a impressão que uma parte da platéia está mais interessada em ver o escritor falando sobre qualquer coisa do que debatendo assuntos propriamente (cof!) literários. Valter Hugo Mãe, para citar um caso, falou sobre o desejo de ter filhos, sobre a alegria dos brasileiros, leu carta e conquistou a platéia. Não houve debate, discussão ou polêmica e desconheço uma pessoa que não tenha gostado (quer dizer, teve gente que não gostou só que ele tinha uma platéia inteira a seu favor).

Discursos políticos e "conflitos" (não propriamente por discordância ou saia justa entre autores) estiveram presentes na mesa com Adonis e Amin Maalouf (não vi, estou me baseando no texto do Bira e nas coisas que li) e na mesa com Zoé Valdés e Dany Laferrière (vi e achei bastante política a postura dela ao falar francês - ela é cubana - e a força do discurso dele falando sobre a ditadura haitiana). Evidentemente, nenhum deles atirou fogo na tenda dos autores. O gesto político foi sutil, mas perceptível.

Para não me extender muito, deixo o caso do Jonathan Franzen para um outro momento.

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Parece meio anacrônico fazer um texto sobre a FLIP - agora que a Festa já acabou e outra edição só no ano que vem. No entanto, estive na FLIP e queria muito ter feito uma cobertura um pouco "em tempo real". Infelizmente, faço o blog sozinho e conseguir acesso a internet em Paraty é meio complicado. Também fiquei avesso a ideia de escrever sobre as mesmas coisas que os jornais estavam publicando. Além disso, tem a transmissão ao vivo das mesas pela internet e teve até transcrição que o blog da Companhia das Letras com todo (ou quase todo) diálogo dos autores da editora (trabalho da Diana Passy).

Pensando em pautas, me deu vontade de escrever sobre tudo o que não é propriamente literatura. Tipo, o sanduíche que Jennifer Egan não comeu; o passeio anônimo de Gary Shteyngart pela beira do canal; Ian McEwan esbanjando seu humor inglês e Teju Cole com um olhar muito curioso por tudo. Para não dizer dos escritores brasileiros (alguns até com nome na lista da Granta) que estavam circulando bem à vontade pela Praça da Matriz. Ah! Teve a história da camisa engomada do Francisco Dantas... fica pra próxima.

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Não posso deixar de falar do telão que deu problema em vários momentos e da tradução meio sofrida - Vila Matas leu em espanhol um poema de Fernando Pessoa (na mesa de cabeceira que eu vi do telão, ali bem na areia da praia) e houve uma "tradução" para o português que diferia muito do poema original; imagina a versão que Ian McEwan não estava ouvindo? Tudo bem, a culpa não é dos tradutores e nem da organização porque não é possível prever o que determinado autor vai ler naquele momento. Alguém tem alguma solução?

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Devo voltar ao assunto FLIP uma ou duas vezes mais - prometo!

*Imagem: exposição "os leitores"/André Conti - peguei do flickr da FLIP.

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3 comentários:

  1. E o preconceito contra Teju Cole, o assunto mais calado da Festa?

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  2. Estou com sono e só li o último parágrafo, sobre problemas na tradução. (Guardei o resto do post para de manhã, quando já tiver acordado.)

    Isso poderia ser evitado se pedissem o trecho em traduções adequadas em cada língua e/ou, caso não houvesse, disponibilizar o texto antecipadamente para os tradutores.

    Uma lástima.

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