terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RETROSPECTIVA: O QUE TEVE EM 2015

Vocês notaram que eu estive muito ausente do Casmurros ao longo desse ano - já expliquei num texto anterior. Pois bem, a guisa de retrospectiva compilei as coisas mais importantes que aconteceram. Vai que você (assim como eu) também esteve fora e quer saber dos fatos que marcaram o ano.

> O RETORNO


Harper Lee publicou um novo romance quase 55 anos depois de praticamente abandonar a literatura. O livro inédito se chama Vá, coloque um vigia e chegou as nossas livrarias pela editora José Olympio com tradução Beatriz Horta. É uma continuação do clássico O sol é para todos e, ao contrário do que você pode imaginar, não decepciona. Valeu a espera.

Fernando Bonassi também é outro retorno notório. Ele andava sumido da prosa de ficção, parece que estava envolvido com outros trabalhos (ele também é roteirista e dramaturgo), mas reapareceu esse ano com o romance Luxúria.

> O APARECIMENTO


Precisamos saudar a chegada de O pai morto, de Donald Barthelme com tradução Daniel Pellizzari - o lançamento é da Rocco e foi pouco comentado. O escritor norte-americano falecido em 1989, aos 58 anos, ainda era inédito no Brasil. Ele foi aclamado pela crítica anglófona como um autor de estilo pós-moderno e tinha Machado de Assis, Gabriel García Márquez e François Rabelais como influências confessas. Tomara que a editora aposte nas traduções dos contos - o file mignon da obra de Barthelme.

> O FIM
Impossível não falar no fechamento da Cosac Naify. A notícia é triste porque era uma editora preocupada em publicar inéditos, novos, antigos, boas traduções e edições bem acabadas. Uma pena! Não sou especialista no assunto, mas tomara que não seja sinal de uma crise do setor de negócios do livro. A boa notícia é que o catálogo será absorvido por outras editoras.


Também chega ao fim a revista Arte & Letra: Estórias, publicada pela editora curitibana Arte & Letra. Ela cumpria uma função muito interessante de publicar autores brasileiros em começo de carreira, traduzir autores estrangeiros inéditos no país e colocar em circulação autores do passado que andavam meio esquecidos. As edições eram caprichadas. O último número - com a letra Z - saiu esse mês e tem Almeida Faria, Marta Brunet, Selva Almada, Rogério Pereira e outros. Vai fazer falta!

> O COMEÇO
Para compensar as perdas, temos os ganhos. A editora Carambaia abriu as portas em 2015 focada em publicar "obras esquecidas ou nunca traduzidas de autores em domínio público" - os clássicos da literatura sejam famosos ou obscuros. As tiragens são pequenas, as edições têm projeto gráfico primoroso e a venda é apenas pela internet. Notem que é uma editora muita específica para um público muito específico. Vida longa!

Já abriu as portas, em esquema reduzido, a Patuscada Livraria, Bar e Café - deve começar com força mesmo no ano que vem. A empreitada é do Eduardo Lacerda, editor Patuá. Como o próprio nome já diz vai ser uma livraria e um espaço para celebrar a literatura através de eventos, palestras, espaço de leitura e ponto de encontro para tomar uma bebida. Vida longa (2)!


Outra novidade é a revista digital Peixe-elétrico, empreitada do Tiago Ferro, do Ricardo Lísias e da Mika Matsuzake. A revista sai a cada dois meses e fica à venda nos sites da amazon, apple, google play, kobo, livraria cultura e saraiva. Já está no terceiro número com textos de fôlego. Vida longa (3)!

> EFEMÉRIDES
Sem nenhuma sombra de dúvida, a efeméride mais importante desse ano foi o centenário de nascimento do semiólogo francês Roland Barthes celebrado em 12 de novembro. Ele nunca escreveu um livro de ficção, mas via no texto literário uma espécie de zona livre do "fascismo" do significado - na semiologia tudo é concebido como um sistema de significação seja uma imagem, um gesto, um som, um objeto etc. Em seus últimos anos de vida começou a esboçar algumas ideias para um romance batizado de Vita nova. Infelizmente o projeto foi interrompido pela sua morte abrupta. Seja como for, ele produziu uma obra fundamental para iluminar a sociedade do século XX e XXI, sobretudo se considerarmos todo o conflito linguistico e discursivo que permeia a política, a cultura e a sociedade atual.

Outro fato importante foram os 70 anos de morte do escritor Mário de Andrade o que tecnicamente coloca toda a sua obra em domínio público. Vieram reedições de livros que estavam sumidos, a escolha para ser o autor homenageado da FLIP e até uma carta inédita endereçada a Manuel Bandeira em que ele falava a respeito da sua homossexualidade.


Vale lembrar os cem anos de publicação de A metamorfose, de Franz Kafka. Aquela famosa novela em que depois de uma noite de sonhos intranquilos um caixeiro viajante chamado Gregor Samsa encontra-se "em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso".

Também fez aniversário de 40 anos o romance Lavoura arcaica, de Raduan Nassar - publicado originalmente em 1975.

***

> PRÊMIOS
O ano também foi de prêmios literários - muita gente diz que não dá à mínima, mas sempre tenta descobrir quem ganhou o quê. Vamos a eles:

Bad sex in fiction
Se você acompanha o Casmurros já deve saber que o bad sex premia as cenas mais constrangedoras de sexo da literatura. O ganhador do ano foi List of the lost, de Morrissey - a incursão do cantor e compositor inglês na prosa de ficção (ainda inédito em português). O livro é sobre uma equipe de revezamento de corrida que nos anos de 1970, em Boston, acidentalmente mata um demônio que amaldiçoa todos. A maioria das resenhas foi negativa, portanto, o livro era um forte candidato ao prêmio. O trecho sexual apontado pelos jurados é o seguinte:

‘At this, Eliza and Ezra rolled together into the one giggling snowball of full-figured copulation, screaming and shouting as they playfully bit and pulled at each other in a dangerous and clamorous rollercoaster coil of sexually violent rotation with Eliza’s breasts barrel-rolled across Ezra’s howling mouth and the pained frenzy of his bulbous salutation extenuating his excitement as it whacked and smacked its way into every muscle of Eliza’s body except for the otherwise central zone.’

Nobel
A vencedora foi a bielorrussa Svetlana Alexievich. Ela é autora de livros de não-ficção (grandes reportagens com tratamento quase literário). A decisão da Academia Sueca teve motivações não só políticas considerando que a Rússia está no centro do debate político mundial, mas também estéticas já que a não-ficção tem ganhado papel de destaque ante a ficção.

Man Booker Prize
O prêmio inglês foi para A brief history of Seven Killings, de Marlon James. É a primeira vez em que um autor de jamaicano ganha esse prêmio. O livro conta a história de uma tentativa de assassinato de Bob Marley, em 1976, na Jamaica e as consequências desse evento na guerra de combate ao crack, em 1980, em Nova York e na política jamaicana dos anos 90

National Book Award
O prêmio de ficção foi para Fortune Smiles: stories, de Adam Johnson. Para quem não lembra, ele é o autor de Jun Do (The orphan master's son), livro que ganhou o Pulitzer, em 2013

Pulitzer
O ganhador foi Toda luz que não podemos ver, de Anthony Doerr que antes mesmo de ser premiado já estava nas nossas livrarias - saiu pela Intrinseca com tradução de Maria Carmelita Dias.

Prêmios literários franceses: Goncourt, Renaudot, Médicis e Zorba
As instituições francesas resolveram premiar autores pouco conhecidos foram do mundo francófono. Os vencedores dos prêmios Renaudot, Médicis e Zorba respectivamente foram: D'après une histoire vraie, de Delphine de Vigan; Titus n'aimait pas Bérénice, de Nathalie Azoulai e La terre sous les ongles, de Alexandre Civico. Exceção ao Goncourt que premiou La Boussole, de Mathias Énard - ele tem um livro publicado no Brasil pela L&PM

Prêmio José Saramago
O ganhador desse ano foi As primeiras coisas, de Bruno Vieira Amaral. É o romance de estreia desse jovem autor português - ele tem apenas 37 anos. A imprensa portuguesa fez críticas muito boas a respeito. Alguém para ficarmos de olho.

Oceanos (antigo Portugal Telecom)
Pelo que entendi, o prêmio foi remodelado e no total são quatro premiados - independente de serem livros de prosa ou poesia. Nesse ano, os três primeiros foram de prosa Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago; Por escrito, de Elvira Vigna e A primeira história do mundo, de Alberto Mussa

Apca
Associação Paulista de Críticos de Artes escolheu o romance O senhor agora vai mudar o corpo, de Raimundo Carrero e o livro de contos Jeito de matar lagartas, de Antonio Carlos Viana

Fundação Biblioteca Nacional
Os premiados foram o romance Turismo para cegos, de Tércia Montenegro e o livro de contos Sem vista para o mar, de Carol Rodrigues

Jabuti
Parece que nesse ano correu tudo bem, não houve nenhum problema, nenhuma polêmica e os vencedores foram Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende e o livro de conto Sem vista para o mar, de Carol Rodrigues que já tinha levado o prêmio Fundação Biblioteca Nacional

SP de Literatura
O vencedor na categoria melhor livro do ano foi Tempo de espalhar pedras, de Estevão Azevedo. Já na categoria autor estreante com mais de 40 anos o vencedor foi Nossa terra – vida e morte de uma santa suicida, de Micheliny Verunschk e na categoria autor estreante com menos de 40 anos o vencedor foi Enquanto deus não está olhando, de Débora Ferraz.



Sesc de Literatura
Os vencedores desse ano foram Antes que seque, de Marta Barcellos e Desterro, de Sheyla Smanioto

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A caixa de comentários permanece aberta para quem quiser relembrar outros acontecimentos desse ano. Prometo que volto a qualquer momento, antes de 2016 chegar.

*Imagem das capinhas: divulgação / montagem: Rafael R. 
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